Daqui a dois meses, será aplicado o que pode ser o último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no atual formato. Os candidatos inscritos para a edição deste ano não têm com o que se preocupar, pois a estrutura das provas, a logística e a segurança serão mantidas. No entanto, a intenção da presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, é promover mudanças que passam, inclusive, pelos objetivos do exame.
Fini participou da criação do Enem, em 1998. E propõe retomar vários dos conceitos originais. Ela afirma que as mudanças passam por “estruturação pedagógica, científica, metodológica e de medida da prova”, que seria mais voltada à resolução de problemas. “Se o nosso ministro concordar, e ele parece concordar, já em 2017 teremos alguma mudança”, explicou ela, em entrevista ao jornal Estado de S.Paulo. Ela afirma que o exame não foi criado para ser um “vestibular nacional”, mas poderá continuar a ser meio de acesso à universidade, via Sistema de Seleção Unificado (Sisu). Porém, a prioridade se volta ao que era: a avaliação do ensino médio. “Vamos elaborar uma prova de qualidade e oferecer para as universidades usarem como processo ou parte do processo de acesso”, disse Fini ao jornal O Globo.
“A partir de 2009, o modelo se tornou mais parecido com o vestibular tradicional, avaliando mais conteúdo que habilidades e competências cognitivas”, disse a presidente do Inep. “O Enem foi transformado de processo qualificatório para classificatório”.
Ela critica as mudanças introduzidas, embora elogie benefícios hoje relacionados ao exame, como Prouni, Fies e o próprio Sisu. “Enquanto eu estiver no Inep, qualquer modificação não deve interferir nesses direitos já conquistados”, diz. O mesmo não se aplica à prova. “O exame e a maneira como está estruturado eu não aprovo”, disse ao O Globo.
As mudanças são parte de transformações mais profundas, que mexem com a própria estrutura do ensino médio. Desde 2013, tramita na Câmara dos Deputados o projeto de lei 6.840/2013, que reformula a etapa de estudo. Pela proposta, os últimos três anos da educação básica teriam maior carga horária e currículos dispostos em quatro áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas. “Dependendo disso, o Enem terá de se transformar”, afirmou Fini. Historicamente, o ensino médio se pautou por conteúdos exigidos em vestibulares, aponta Eudes Baima, professor de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) no campus de Limoeiro do Norte. “Não fomos capazes de fazer uma discussão desinteressada sobre qual deveria ser o ensino no Brasil”, aponta. Apesar de reconhecer a necessidade de uma reestruturação, Baima critica a proposta de dividir as disciplinas em quatro grandes áreas. Alterações, tanto na prova como nas escolas, precisam ser amplamente discutidas, defende Paulo Carrano, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Os fóruns e espaços de participação estão sendo esvaziados no atual governo. O projeto de lei propõe alterar diretrizes que foram frutos de ampla discussão”, comenta.
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