Edison Veiga
Um gole de cerveja pode ter feito a diferença na maneira como a cidade de São Paulo está organizada hoje. Como demonstra a tese de mestrado do historiador e urbanista Diógenes Sousa, de 35 anos, pelo menos 11 equipamentos urbanos paulistanos foram criados pela antiga Companhia Antarctica Paulista entre fins do século 19 e início do século 20, e se tornaram polos importantes que desenharam a própria malha do município.
"Meu desafio foi entender a participação da companhia no processo de urbanização de São Paulo", resume Sousa, que faz palestra sobre o assunto na noite do próximo dia 18, no Instituto Bixiga, em São Paulo. Historiador formado pela Universidade Federal de São Paulo, Sousa debruçou-se sobre esse material para sua dissertação de mestrado, defendida na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Agora, ele se aprofunda no urbanismo em seu doutorado, em andamento na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.A Antarctica foi criada em 1885. Originalmente, era um abatedouro no bairro da Água Branca. Que também contava com uma fábrica de gelo. Em 1888, Louis Bucher, filho de cervejeiros alemães, entra no negócio e começa a fabricar cerveja de forma mais industrial - ele já tinha uma pequena fábrica anteriormente. Formalmente, a Companhia Antarctica Paulista é fundada em 1891.
"Entre os equipamentos urbanos criados pela Antarctica com o intuito da venda de suas bebidas estão o Parque Antarctica, o Cine Central, o Cassino Antarctica, o Theatro Polytheama, o Cine Bijou e o Bosque da Saúde. Os equipamentos voltados à educação e à saúde são o Hospital Santa Helena e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a Escola Vocacional Antarctica e a Escola Técnica Antarctica, além da Fundação Helena Zerrenner", cita o historiador.
Ou seja: a empresa acabou influenciando o desenvolvimento urbano de São Paulo ao criar "estruturas-âncora", fosse para atender aos funcionários de sua fábrica e a comunidade do entorno - como familiares e imigrantes -, no caso de equipamentos de educação e saúde, fosse na criação de locais de entretenimento e lazer, justamente para alavancar o consumo da bebida na cidade então muito provinciana.