Eliot Stein
Em uma tarde fria, um carteiro caminha sozinho pela floresta de Dodauer, a 100 quilômetros de Hamburgo, no norte da Alemanha. Ao chegar a uma clareira, ele abre sua bolsa e sobe lentamente uma escada de madeira de três metros de altura para entregar um envelope roxo a um carvalho de 500 anos.
"Só uma hoje", diz ele, antes de dar meia volta e desaparecer no meio das árvores em direção à próxima caixa de correio na sua rota.
O envelope roxo foi enviado por Denies, da Baviera. Ela tem 55 anos, não tem medo de rir de si mesma e ama a natureza. Sabe o que quer, não se importa de ficar sozinha, mas quer saber se há um homem por aí capaz de surpreendê-la. Se tiver, ela espera que ele também esteja à procura de um amor.
Conhecida como Der Bräutigamseiche ("Carvalho dos Noivos", em tradução livre), essa árvore anciã, localizada nos arredores da cidade de Eutin, tem ajudado casais a "dar match" muito antes do Tinder - e dizem que já foi responsável por mais de 100 casamentos.
Atualmente, pessoas de diferentes partes do mundo escrevem cartas endereçadas ao carvalho, na esperança de que, pelo preço de um selo postal, consigam encontrar um companheiro.
É o caso da Marie, de Brandenburg, que gostaria de conhecer um homem que saiba dançar; do Heinrich, da Saxônia, que está procurando uma parceira de viagem; e do Liu, de Shijiazhuang, que quer saber apenas se existe uma alemã interessada em ter um amigo chinês.
"Há algo mágico e romântico nisso tudo", diz Karl-Heinz Martens, de 72 anos, carteiro que entregou correspondências à árvore por 20 anos, desde 1984.
"Na internet, questionários combinam as pessoas, mas na árvore é uma linda coincidência, como o destino", avalia.
Apesar de estar aposentado, Martens guarda um álbum de recortes repleto de fotografias, cartas e notícias de jornal do tempo em que era mensageiro oficial do amor. E fez questão de me mostrar durante um café no centro de Eutin.
Memória afetiva
Em duas décadas de serviço ao carvalho, Martens entregou cartas de seis continentes, muitas vezes em idiomas que ele não entendia. E explicou que embora hoje muitas pessoas saibam sobre a existência da árvore, há 128 anos era um segredo compartilhado por um único casal.
Em 1890, uma moça da região chamada Minna se apaixonou por Wilhelm, um jovem fabricante de chocolate. O pai a proibiu de ver o rapaz e os dois começaram a trocar cartas secretamente, deixando as correspondências em um buraco no tronco do carvalho. Um ano depois, o pai de Minna finalmente deu permissão para a filha se casar com o pretendente. O casamento aconteceu em 2 de junho de 1891, sob a sombra do carvalho.
A história de conto de fadas se espalhou e não demorou muito para românticos de toda a Alemanha começarem a escrever cartas de amor para o carvalho. A árvore recebeu tanta correspondência que, em 1927, a Deutsche Post, empresa alemã de serviços postais, atribuiu um código postal próprio para o carvalho e um carteiro foi designado para fazer as entregas. Também providenciou uma escada até a "caixa de correio", para que qualquer pessoa interessada em abrir, ler e responder as cartas tivesse acesso.
Segundo Martens, a única regra é: se você abrir uma carta que não quer responder, deve colocá-la de volta na árvore para que outra pessoa a encontre.
"A árvore recebe cerca de mil cartas por ano", diz Martin Grundler, porta-voz da Deutsche Post.
"A maioria chega no verão. Eu suponho que é quando todo mundo quer se apaixonar", acrescenta.
Para quem gosta de uma pessoa específica, reza a lenda que se uma mulher caminha três vezes ao redor do tronco do carvalho sob a lua cheia, enquanto pensa em seu amado, sem falar ou rir, ela se casará com ele no prazo de um ano.
50 envelopes por dia
Até hoje, o "carvalho dos noivos" continua sendo a única árvore no mundo que tem endereço postal próprio. Seis dias por semana nos últimos 91 anos, um carteiro caminhou pela floresta - faça chuva, neve ou sol - e subiu a escada para depositar as correspondências no buraco da árvore. E ninguém entregou mais cartas ao carvalho do que Martens.
"Era minha parte favorita do dia", conta o carteiro aposentado, me mostrando uma fotografia em preto e branco dele, de óculos e boné, sorrindo enquanto deixava cartas no carvalho.
"As pessoas costumavam decorar minha rota e esperar eu chegar porque não acreditavam que um carteiro entregasse cartas a uma árvore."
Em 20 anos, Martens disse que houve apenas 10 dias em que ninguém escreveu para o carvalho. E, embora chegasse a entregar até 50 envelopes por dia, nem todos continham cartas de amor.
"Antes da unificação (em 1990), moradores da Alemanha Oriental que não tinham conhecidos na parte Ocidental costumavam escrever para a árvore e perguntar que modelos de carro e tipos de música existiam lá", conta.
"Eu queria responder, mas meu chefe recomendou que eu não fizesse isso."
No entanto, muitas correspondências que chegaram ao longo dos anos resultaram em lindas histórias de amor.
Em 1958, um jovem soldado alemão chamado Peter Pump foi até o carvalho, vasculhou o buraco de cartas e retirou um pedaço de papel com apenas um nome e endereço. Por um capricho, ele decidiu responder à "honrada senhorita Marita", que, na verdade, não tinha escrito para a árvore. Os amigos da jovem enviaram a mensagem, sabendo que ela era muito tímida. Peter e Marita se corresponderam durante um ano até finalmente se conhecerem. Os dois trocaram alianças em 1961 e celebram neste ano o 57º aniversário de casamento.
Outra história é a dos Christiansens. Em 1988, Martens entregou ao carvalho uma carta escrita por uma moça de 19 anos da Alemanha Oriental, chamada Claudia. Ela estava em busca de um amigo por correspondência. Friedrich Christiansen, fazendeiro da Alemanha Ocidental, encontrou o envelope e escreveu de volta para ela. Eles trocaram 40 cartas e se apaixonaram. Impedidos de se encontrar, Friedrich e Claudia se corresponderam por quase dois anos através da fronteira. Quando o muro caiu, os dois puderam se ver pela primeira vez e se casaram em maio de 1990.
Carteiro 'fisgado'
"Eu sei de pelo menos 10 casamentos apadrinhados pela árvore", revela Martens.
"Um, em particular, se destaca."
Em 1989, uma emissora de TV alemã estava gravando uma reportagem especial sobre o carvalho e perguntou a Martens se ele próprio já tinha encontrado o amor em seu tronco. Ele respondeu que não. Poucos dias depois, ao subir a escada para entregar as correspondências, se deparou com o bilhete de uma mulher chamada Renate, endereçado ao carteiro do carvalho.
"Eu gostaria de te conhecer", dizia o texto. "Você faz meu tipo. No momento, também estou sozinha".
"Eu liguei para ela, meio desajeitado, e logo a encontrei", conta Martens, me mostrando uma foto dele e Renate se beijando no dia do casamento.
"Nos casamos em 1994 e a recepção foi embaixo do carvalho."
O jornal local publicou uma foto de Martens de terno subindo a escada e uma dos recém-casados se beijando sob a sombra da árvore. O título da reportagem dizia: "Casamento do ano". Vinte e quatro anos depois, Martens e Renate continuam juntos e felizes. E o carteiro aposentado ainda guarda o bilhete dela.
Quando o sol começou a se pôr no centro de Eutin, Martens fechou subitamente o álbum de recortes e colocou o casaco.
"Vamos antes que escureça", disse ele, pegando as chaves do carro.
"Siga-me."
Quinze minutos depois, eu estava de volta à floresta de Dodauer, dessa vez seguindo os passos apressados de Martens em direção ao velho carvalho. Na cerca ao redor da árvore, ele aponta para duas tabuletas: uma que conta a história do carvalho, escrita por ele; e outra que diz "que este casamento dure muito tempo!"
Em 2009, após mais de 100 anos unindo as pessoas, o carvalho se casou simbolicamente com uma castanheira de 200 anos perto de Düsseldorf. Apesar da distância de 503 quilômetros, as duas árvores permaneceram juntas por seis anos, até que a castanheira começou a sofrer com os sinais da velhice e teve que ser cortada, deixando o carvalho viúvo.
"Quando comecei a vir aqui, a árvore era mais forte e mais saudável", afirma Martens, apontando para uma série de cabos que sustentam os galhos do carvalho.
"Mas eu também não sou tão saudável, então, suponho que tenhamos uma conexão especial."
Há alguns anos, os arboristas descobriram que o carvalho tinha sido infectado por um fungo - e tiveram que podar diversos galhos para evitar que a doença se espalhasse. Na mesma época, Martens foi diagnosticado com leucemia. Assim como os galhos da árvore, ele explicou que seus ossos não são mais tão estáveis.
"Mas eu ainda consigo subir a escada", diz ele, avançando lentamente degrau por degrau.
Após espiar pela minúscula caixa postal, Martens se desculpou educadamente. Estava ficando tarde e ele precisava voltar para encontrar a esposa.
Quando ele foi embora, um homem magro com os cabelos bem penteados apareceu andando pela floresta. Ele trazia um pequeno pedaço de papel nas mãos. Quando se aproximou do carvalho, perguntei gentilmente se ele não se importava de responder algumas perguntas para uma história que eu estava escrevendo.
Ele me contou que às vezes caminha sozinho até a árvore depois do trabalho. E me mostrou o bilhete que tinha escrito:
"Sou viúvo, tenho 53 anos, 1,75 m de altura e moro em Ostholstein. Estou à procura de uma parceira amorosa e leal, de estatura mediana e magra. Quem sabe nos falamos em breve. Jens", dizia o texto.
"Nunca se sabe", ele sorriu.
Me despedi e comecei a voltar para a cidade andando pela floresta. À beira da clareira, me virei e avistei Jens no topo da escada. Ele estava colocando um envelope roxo no bolso do casaco.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.
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