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domingo, 28 de maio de 2017

O TERÇO DOS HOMENS – UMA ANÁLISE FENOMENOLÓGICA E ANTROPOLÓGICA.

"Nada contra, mas, apavora-me pensar que precisamos de uma prática de oração medieval para agregar os homens, que vivem distantes da vida da Igreja, numa espécie de “clube do Bolinha”, no qual as mulheres não podem entrar"....


Vai e volta nossa gente ressuscita na Igreja antigas práticas de piedade e faz delas o carro-chefe da pastoral ou da espiritualidade paroquial. Tem de tudo, desde adoração ao Santíssimo, novenas diversas (até de São Miguel), cerco de Jericó, missas de cura e libertação, reza das mil Ave-Marias etc. São expressões da religiosidade do povo, sinais de sua fé, de sua busca de Deus. Nosso povo anda desejoso de uma força para viver, de algo que lhe arrebate da mesmice da vida, e o Transcendente tem essa capacidade de ressignificar tudo, tornando a vida mais leve e o fardo existencial menos pesado. Certamente não temos nada contra a religiosidade popular, nem contra as expressões religiosas de nossa gente, mas ando assustada de ver como essas práticas piedosas crescem e ganham vulto, a ponto de se tornarem o alicerce de algumas paróquias. É o caso, por exemplo, do famoso terço dos homens.

A oração do terço (a terça parte do rosário) tornou-se uma tradição na Igreja e essa piedade remonta ao século VIII. Na Idade Média, o rosário era o consolo dos analfabetos, que não conseguindo rezar a liturgia das horas com os 150 salmos, como os monges e os religiosos de vida consagrada, rezavam as 150 Ave-Marias (depois do papa João Paulo II, o rosário tem 200 Ave-Marias). Não era preciso saber ler, nem ter grandes técnicas de oração. Era só recitar as preces decoradas, com pequenas introduções de meditações sobre os mistérios da vida de Cristo e de Maria. Rapidamente essa prática se espalhou, especialmente depois de São Domingos de Gusmão que diz ter recebido o rosário das mãos da virgem como arma para combater os hereges. O terço tornou-se uma espécie de consolo espiritual para os aflitos, calmante para os insones, arma contra os demônios e oração apropriada para a hora da morte. Durante muito tempo, as famílias católicas rezaram o terço no final da tarde, especialmente na hora chamada de ângelus. O costume se enraizou tanto que ainda hoje, mesmo com toda secularização da sociedade, muitas rádios ainda tocam a Ave-Maria ou rezam o terço as 18h.