Renata Mendonça
Isabella sempre quis jogar futebol na escola, mas só a vontade nunca foi suficiente. Precisava passar pelo crivo dos meninos antes de entrar na quadra: ela pedia para jogar, eles faziam uma rodinha para debater se deixariam ou não. Muitas vezes, Isa tinha que se contentar em ficar só assistindo.
Já Ana Luiza insistia até que os meninos cedessem - se vinham com o papo de que "ali não entrava menina", ela não arredava o pé da quadra. Só que entrar no jogo não significava estar no jogo, e Ana amargou um tempo sem conseguir tocar na bola, pois eles não a passavam para ela. Até que a menina provou sua habilidade e virou presença constante no futebol do bairro - e também nome constante nas fofocas dali ("Menina-macho, aquela ali vai ser sapatão com certeza.")
A história de Juliana foi um pouco diferente. Os meninos conheciam sua habilidade e, todo dia, tocavam a campainha de sua casa para chamá-la para o futebol. Mas a mãe não gostava muito da ideia e, para impedir a menina de jogar, passou a delegar para ela as tarefas da casa. "Você só vai descer depois que lavar a louça", dizia.
Com a ajuda do irmão mais velho - que também queria jogar com ela -, Juliana acabava o serviço rapidinho e logo ia para a rua. No dia seguinte, a mãe insistia. "Agora vai ter que lavar a louça e varrer o chão" - e a parceria com o irmão se repetia. "Hoje é a cozinha toda." Até que a mãe desistiu. E Juliana se tornou Ju Cabral, a capitã da primeira medalha de prata do Brasil no futebol feminino na Olimpíada de Atenas (2004).