Temeridade deve ser por certo a nosso querer parafrasear o ilustre romancista José de Alencar, quando em suas notas ao seu imortal romance “Iracema” nos explica o significado etmológico da palavra - Camocim.
Ao grande saber e vastas luzes do notável brasileiro deveram, contudo impor, concernente ao assunto, que nos ocupa neste momento, o que nos deve parecer, ou de fato é mais lógico e racional na interpretação do nome – Camocim, que ele a nosso ver, arbitrariamente faz-se derivar da frase indígena; - “Co ambyra anhotim”, como se lê nas referidas notas de sua Iracema, 7ª edição, pag. 209 – not. Pag. 47, onde assim disserta – Camocim – “Vaso onde se encerravam os indígenas os corpos dos mortos e que lhes serviam de túmulo; outros dizem Camotim e talvez com melhor ortografia; porque, se não me engano, o nome é corrupção da frase: - CO, buraco,AMBYRA, defunto e ANHOTIM, enterrar – Buraco para enterrar defunto, c’aan’otim. O nome dava-se também a qualquer pote.
Ora, a prevalecer tal etimologia, a consequência seria muitos outros lugares no Ceará deviam ser igualmente batizados por, - CAMOCIM-, pois em todas as tabas deviam se dar sepultamentos de indígenas pela forma por que costumavam fazê-los, colocando os cadáveres dentro de potes, ou vasos de barro para esse fim destinados.
Fazer frase – Co ambyra anhotim a palavra – Camocim é revelar uma faculdade de interpretação ou de cifração excedente a de muitos champollions reunidos. Por isso mesmo sempre nos pareceu erronia e inaceitável tal significado – Camocim -, sendo preferível deixá-la antes sem interpretação do que adotar uma tão abstrusa.
No entanto parece-nos que a verdadeira tradução da palavra – Camocim é a que passamos a expor:
Folheando-se o dicionário de Bouillet, 13ª edição, encontra-se a palavra – khamsin com a seguinte significação: - Vento abrasador do Egito que sopra no deserto; se o nome vem do Egípcio – K’namsin – cinquenta – porque esse vento sopra somente durante os cinquenta dias que precedem ao equinócio da primavera.
Ora, esse vento é o que sopra na Tripolitania, que como se sabe estendem-se as costas do Mediterrâneo, entre a Tunísia Meridional e o Egito, no continente Africano, lugares esses muitos conhecidos e frequentados pelos portugueses, que por conseguinte deviam ter inteiro conhecimento desse vento que ali sopra chamado – Khamsin – e como só aportarem as terras do Ceara, onde hoje demora a cidade de Camocim, observassem que aqui soprava igualmente um vento em tudo quase semelhante ao que já conheciam nas costas Africanas, era muito natural que o tivessem pelo mesmo vento – khamsin – e que assim também o denominem, pois que sopra aqui, como o da Tunísia, com igual impetuosidade e de tal sorte que os habitantes do lugar, veio para esse fato a chamar-se Camocim, cerram porém durante a maior parte do dia as portas de suas habitações para ficarem ao abrigo de duas fortes lufadas, carregadas das areias, que levantam e conduzem em seu curso.
Portando da palavra Khamsin, nome do vento que soprando na Tripolitania e Tunísia, era bem conhecido dos portugueses, que vindos, naqueles tempos remotos e obscuros aportar em praias desertas, julgaram como razão ser o mesmo que já conheciam e encontraram nessas paragens desconhecidas, ficando assim e chamar-se Kmasin o rio que ali faz a sua barra e o povoado que depois se formou, correspondendo-se esse nome com aos tempos e conforme a índole da língua portuguesa para – Camocim -, que jamais poderá se derivar dessa frase indígena – com ambyra, anhotim – como que parece que por mero recreio imaginou o nosso eminente romancista patrício José de Alencar.
(Transcrito da Folha do Povo de 7 de Dezembro de 1915. Tendo sido refundido pelo seu autor desembargador Joaquim Olympio de Paiva). Redigitação: Elivelton Araújo Correção ortográfica: Francisco Rocha
VEJA AQUI MAIS FOTOS DE CAMOCIM
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