Leandro Machado
A pesquisadora Letícia precisa importar livros da França para terminar seu doutorado em psicologia, pois não existem traduções das obras para o português. Mas ela conta que nos últimos meses teve preocupações mais urgentes e básicas: como conseguir comida?
Já Angélica Samer, doutoranda em biologia, está evitando ir à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde estuda, para economizar R$ 16 da passagem de ônibus.
Elas estão entre os 7 mil bolsistas de iniciação científica e pós-graduação da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais). Recebem R$ 2,2 mil mensais para produzir suas pesquisas, mas os constantes atrasos de pagamento do auxílio estão criando dificuldades que elas não imaginavam passar nessa fase da vida acadêmica.
"Em fevereiro a fome bateu, cara. Passei fome, sim. Olhei o armário e não tinha carne, não tinha arroz, farinha", conta Letícia, de 40 anos. A seu pedido, seu nome verdadeiro foi trocado nesta reportagem pois ela teme sofrer represálias.
A acadêmica começou a receber o auxílio da Fapemig em 2016, quando iniciou o doutorado em psicologia na UFMG. Ela e outros estudantes de universidades públicas de Minas contam histórias semelhantes: até meados de 2016, as bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado eram pagas em dia.