FONTE:DN/DOC/FALA CAMOCIM BLOG
Inaugurada em 1882, ainda no governo imperial de Dom Pedro II, a Estação Ferroviária da Baturité abriga o Museu do Município e a Secretaria de Cultura. Ao lado do prédio, uma maria-fumaça lembra os festejos dos cem anos da Estrada de Ferro de Baturité. Wedney Rodrigues de Sousa, secretário de Cultura do Município, destaca que a chegada da ferrovia significou desenvolvimento para a região. "Nós tínhamos aqui o principal meio de escoamento da produção, do café e também do algodão e também um grande incremento no transporte de pessoas", destaca.
Segundo o secretário, a redução da produção do café e do algodão e, anos mais tarde, a desativação do trem de passageiros, trouxeram um grande prejuízo para a região, principalmente para o turismo. Nós tentamos reativar isso, anos mais tarde, com a Litorina e também o Trem do Forró, mas nenhum dos dois sobreviveu", lamentou.
O titular da Cultura destaca que, há cinco anos, a Prefeitura recebeu a cessão do complexo, que envolve a estação e dois armazéns. No grande armazém, que, no passado, recebia os produtos a serem transportados pelo trem, funciona oficina e lojinha de artesanato com palha de bananeira e também a sede da Banda Municipal de Baturité.
Um novo sertão
João Eudes Costa, 83, memorialista de Quixadá, conta que a estação ferroviária faz parte, não só da história do Município, mas do próprio Ceará. "Em 1877 houve uma das grandes secas do Nordeste, que, naquele tempo, era muito mais cruel do que hoje. A lamentação foi tão grande que chegou ao conhecimento de Dom Pedro II. E ele fez aquele célebre pronunciamento: 'Não restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome'. Formou, então, uma comissão de engenheiros para estudar o fenômeno da seca e construir açudes e barragens".
Segundo ele, essa comissão concluiu que uma das maneiras de acolher os flagelados era ampliar a Estrada de Ferro de Baturité para dar serviço a esse pessoal. O imperador encampou esse projeto e o tornou federal. "Quando a construção do Açude do Cedro foi iniciada, em 1884, era difícil demais porque não tinha material ou estrada. Grande parte daquele ferro veio da Europa, de navio até Fortaleza e, de lá, de trem até onde acabava a estrada de ferro".
"Ela foi uma desbravadora. Onde tinha um povoado, transformava em cidade. Onde tinha uma vila, transformava em distrito. A estrada de ferro chegou a Quixadá em 1891", afirma. Ele lembra que os pontos finais das linhas foram muito importantes para as cidades crescerem porque elas ficavam longe da Capital. O comércio local dependia do que o trem trazia. "Hoje, em Quixadá, por exemplo, tem transporte de dez em dez minutos para Fortaleza. Muita gente deixa de comprar no comércio daqui para ir para lá", completa.
Movimentação
Antônio Helder Lopes Paixão, 78, agente de estação aposentado da Rffsa, onde trabalhou de 1959 a 1989, conta que foi de Baturité para Quixadá por causa do trabalho e acabou ficando. "Entre as décadas de 1960 e 1970, a estrada de ferro tinha um fluxo muito grande de passageiros e de cargas. Nessa época, era uma média diária de 300 passageiros para Fortaleza e em torno de 150 para o Interior e também Recife. Para lá, tinha o Asa Branca, um trem muito requisitado na época, com ar-condicionado e rapidez", revela.
"Era a coqueluche da Cidade. Quando o trem se aproximava, aparecia gente de todo lado. Aqueles que estavam esperando alguém chegar, os que iam viajar, os curiosos. O trem sempre teve a sua majestade. Ainda hoje, a gente se admira quando vê um. É extenso, carrega muita gente, muita carga. É um transporte diferenciado", sentencia.
Ele confirma que, quando a ferrovia deixou de funcionar já estava sucateada, não tinha mais investimento. "Tudo que se ia fazer era aproveitando o que já se tinha. Tirava um dormente de um canto para usar noutro que tinha mais necessidade e assim continuou até não dar mais. A desativação foi uma questão de vontade política. Poderia ser mantida até hoje. Tanto é assim que estão criando a Transnordestina, que poderia aproveitar todo esse traçado que ainda hoje existe, com as suas estações", acredita.
Antônio Gomes dos Santos, 70, taxista há 40 anos ao lado do armazém da Estação de Quixadá, tem esperança de que haja mudança na área. "Quando funcionava a estação, era bem melhor porque dava muita corrida. Agora diminuiu o trabalho e aumentou a insegurança. Até crimes já aconteceram aí. Espero que algum dia façam algo que beneficie essa área", deseja.
De fato, os planos que a Prefeitura tem para o local são promissores. Aldênio Moraes, secretário de Cultura e Esporte de Quixadá, explica que o espaço, que antes pertencia à Rffsa, estava sob a guarda do Iphan e o Município pleiteou a cessão de uso, tanto da estação, quanto do armazém e conseguiu neste ano. "Estamos trabalhando para a captação de recursos. Temos algumas ideias, como um cineteatro, um espaço multiuso de eventos. O objetivo é dar à cidade um novo atrativo cultural e turístico, onde a gente quer agregar a história de Rachel de Queiroz, um patrimônio inestimável da cidade. A partir da estação, nasceria um corredor turístico para a 'Fazenda não me deixes'. A gente pretende adquirir uma locomotiva para oferecer aos turistas um passeio guiado", conta.
Segundo Aldênio, o Município está buscando parcerias com a iniciativa privada para garantir não só a revitalização dos espaços, mas a manutenção.
'Não me deixes'
A Estação Daniel de Queiroz, que fica na Fazenda Junco, ao lado da 'Não me deixes'. Está em pé, mas sem uso. Francisco Wilson Sampaio de Oliveira, 60, mora há mais de duas décadas na localidade. Segundo ele poucas famílias vivem no lugar.
Ainda em Quixadá, há mais uma estação, a Juatama, arrematada em leilão e recuperada pelo funcionário público aposentado José Pontes de Medeiros Filho, 72. "Moro em Juatama há 40 anos. Como todos os bens da Rffsa, ela estava abandonada. Tive receio que alguém desvirtuasse o patrimônio. Preferi me adiantar. Depois criei a Associação para o Desenvolvimento Social e Cultural de Juatama (Asderj), mas não houve muita adesão ou apoio para tocar projetos", diz. Do outro lado da rua mora Maria de Fátima da Silva, 61. Filha de ferroviário, nasceu e se criou em frente à estação. "Era muito animado. Nossa casa parecia uma rodoviária. Quando o trem atrasava, o pessoal ia lá, tomava café, água", lembra.
Inaugurada em 1882, ainda no governo imperial de Dom Pedro II, a Estação Ferroviária da Baturité abriga o Museu do Município e a Secretaria de Cultura. Ao lado do prédio, uma maria-fumaça lembra os festejos dos cem anos da Estrada de Ferro de Baturité. Wedney Rodrigues de Sousa, secretário de Cultura do Município, destaca que a chegada da ferrovia significou desenvolvimento para a região. "Nós tínhamos aqui o principal meio de escoamento da produção, do café e também do algodão e também um grande incremento no transporte de pessoas", destaca.
Segundo o secretário, a redução da produção do café e do algodão e, anos mais tarde, a desativação do trem de passageiros, trouxeram um grande prejuízo para a região, principalmente para o turismo. Nós tentamos reativar isso, anos mais tarde, com a Litorina e também o Trem do Forró, mas nenhum dos dois sobreviveu", lamentou.
O titular da Cultura destaca que, há cinco anos, a Prefeitura recebeu a cessão do complexo, que envolve a estação e dois armazéns. No grande armazém, que, no passado, recebia os produtos a serem transportados pelo trem, funciona oficina e lojinha de artesanato com palha de bananeira e também a sede da Banda Municipal de Baturité.
Um novo sertão
João Eudes Costa, 83, memorialista de Quixadá, conta que a estação ferroviária faz parte, não só da história do Município, mas do próprio Ceará. "Em 1877 houve uma das grandes secas do Nordeste, que, naquele tempo, era muito mais cruel do que hoje. A lamentação foi tão grande que chegou ao conhecimento de Dom Pedro II. E ele fez aquele célebre pronunciamento: 'Não restará uma única joia na Coroa, mas nenhum nordestino morrerá de fome'. Formou, então, uma comissão de engenheiros para estudar o fenômeno da seca e construir açudes e barragens".
Segundo ele, essa comissão concluiu que uma das maneiras de acolher os flagelados era ampliar a Estrada de Ferro de Baturité para dar serviço a esse pessoal. O imperador encampou esse projeto e o tornou federal. "Quando a construção do Açude do Cedro foi iniciada, em 1884, era difícil demais porque não tinha material ou estrada. Grande parte daquele ferro veio da Europa, de navio até Fortaleza e, de lá, de trem até onde acabava a estrada de ferro".
"Ela foi uma desbravadora. Onde tinha um povoado, transformava em cidade. Onde tinha uma vila, transformava em distrito. A estrada de ferro chegou a Quixadá em 1891", afirma. Ele lembra que os pontos finais das linhas foram muito importantes para as cidades crescerem porque elas ficavam longe da Capital. O comércio local dependia do que o trem trazia. "Hoje, em Quixadá, por exemplo, tem transporte de dez em dez minutos para Fortaleza. Muita gente deixa de comprar no comércio daqui para ir para lá", completa.
Movimentação
Antônio Helder Lopes Paixão, 78, agente de estação aposentado da Rffsa, onde trabalhou de 1959 a 1989, conta que foi de Baturité para Quixadá por causa do trabalho e acabou ficando. "Entre as décadas de 1960 e 1970, a estrada de ferro tinha um fluxo muito grande de passageiros e de cargas. Nessa época, era uma média diária de 300 passageiros para Fortaleza e em torno de 150 para o Interior e também Recife. Para lá, tinha o Asa Branca, um trem muito requisitado na época, com ar-condicionado e rapidez", revela.
"Era a coqueluche da Cidade. Quando o trem se aproximava, aparecia gente de todo lado. Aqueles que estavam esperando alguém chegar, os que iam viajar, os curiosos. O trem sempre teve a sua majestade. Ainda hoje, a gente se admira quando vê um. É extenso, carrega muita gente, muita carga. É um transporte diferenciado", sentencia.
Ele confirma que, quando a ferrovia deixou de funcionar já estava sucateada, não tinha mais investimento. "Tudo que se ia fazer era aproveitando o que já se tinha. Tirava um dormente de um canto para usar noutro que tinha mais necessidade e assim continuou até não dar mais. A desativação foi uma questão de vontade política. Poderia ser mantida até hoje. Tanto é assim que estão criando a Transnordestina, que poderia aproveitar todo esse traçado que ainda hoje existe, com as suas estações", acredita.
Antônio Gomes dos Santos, 70, taxista há 40 anos ao lado do armazém da Estação de Quixadá, tem esperança de que haja mudança na área. "Quando funcionava a estação, era bem melhor porque dava muita corrida. Agora diminuiu o trabalho e aumentou a insegurança. Até crimes já aconteceram aí. Espero que algum dia façam algo que beneficie essa área", deseja.
De fato, os planos que a Prefeitura tem para o local são promissores. Aldênio Moraes, secretário de Cultura e Esporte de Quixadá, explica que o espaço, que antes pertencia à Rffsa, estava sob a guarda do Iphan e o Município pleiteou a cessão de uso, tanto da estação, quanto do armazém e conseguiu neste ano. "Estamos trabalhando para a captação de recursos. Temos algumas ideias, como um cineteatro, um espaço multiuso de eventos. O objetivo é dar à cidade um novo atrativo cultural e turístico, onde a gente quer agregar a história de Rachel de Queiroz, um patrimônio inestimável da cidade. A partir da estação, nasceria um corredor turístico para a 'Fazenda não me deixes'. A gente pretende adquirir uma locomotiva para oferecer aos turistas um passeio guiado", conta.
Segundo Aldênio, o Município está buscando parcerias com a iniciativa privada para garantir não só a revitalização dos espaços, mas a manutenção.
'Não me deixes'
A Estação Daniel de Queiroz, que fica na Fazenda Junco, ao lado da 'Não me deixes'. Está em pé, mas sem uso. Francisco Wilson Sampaio de Oliveira, 60, mora há mais de duas décadas na localidade. Segundo ele poucas famílias vivem no lugar.
Ainda em Quixadá, há mais uma estação, a Juatama, arrematada em leilão e recuperada pelo funcionário público aposentado José Pontes de Medeiros Filho, 72. "Moro em Juatama há 40 anos. Como todos os bens da Rffsa, ela estava abandonada. Tive receio que alguém desvirtuasse o patrimônio. Preferi me adiantar. Depois criei a Associação para o Desenvolvimento Social e Cultural de Juatama (Asderj), mas não houve muita adesão ou apoio para tocar projetos", diz. Do outro lado da rua mora Maria de Fátima da Silva, 61. Filha de ferroviário, nasceu e se criou em frente à estação. "Era muito animado. Nossa casa parecia uma rodoviária. Quando o trem atrasava, o pessoal ia lá, tomava café, água", lembra.
Outras estações
A Estação de Guaiúba foi inaugurada em 1879. A cidade cresceu a partir da estação. É município desde 1986. No local, funciona, há quatro anos, a Câmara Municipal. Seu presidente, Eudes Barreto, explica que o prédio é tombado externamente e a obra de restauração foi concluída no dia 1° de fevereiro passado.
A Estação de Junco foi inaugurada em 1891, com o nome da fazenda dos Queiroz, que já existia à época. Nos anos 1940 teve o nome alterado para Muxiopó. Em 1961, recebeu o nome de Daniel de Queiroz, pai da escritora Rachel de Queiroz. No momento está sem uso
A estação de Quixadá foi inaugurada em 1891. Em 2006 ainda era uma das estações operacionais da CFN, atual concessionária do trecho. Em 2012 passou a abrigar a Academia Quixadaense de Letras. Desde 2014, segue desocupada
A Estação de Juatama foi inaugurada em 1891. É um marco importante para a história local, pois às suas margens o distrito se desenvolveu. Arrematada em leilão e recuperada pelo funcionário público aposentado José Pontes de Medeiros Filho, permanece fechada
A Estação de Guaiúba foi inaugurada em 1879. A cidade cresceu a partir da estação. É município desde 1986. No local, funciona, há quatro anos, a Câmara Municipal. Seu presidente, Eudes Barreto, explica que o prédio é tombado externamente e a obra de restauração foi concluída no dia 1° de fevereiro passado.
A Estação de Junco foi inaugurada em 1891, com o nome da fazenda dos Queiroz, que já existia à época. Nos anos 1940 teve o nome alterado para Muxiopó. Em 1961, recebeu o nome de Daniel de Queiroz, pai da escritora Rachel de Queiroz. No momento está sem uso
A estação de Quixadá foi inaugurada em 1891. Em 2006 ainda era uma das estações operacionais da CFN, atual concessionária do trecho. Em 2012 passou a abrigar a Academia Quixadaense de Letras. Desde 2014, segue desocupada
A Estação de Juatama foi inaugurada em 1891. É um marco importante para a história local, pois às suas margens o distrito se desenvolveu. Arrematada em leilão e recuperada pelo funcionário público aposentado José Pontes de Medeiros Filho, permanece fechada
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