Artista concedeu entrevista exclusiva ao G1 em um hotel de Salvador.
'Estão matando a galinha dos ovos de ouro', disse já nos anos 90; VÍDEOS.
“Vitória” foi uma das primeiras palavras ditas por Netinho no início da entrevista. Pontualmente, chegou de camisa, bermuda, boné e chinelo: “Olha a vista desse lugar”, justificou a escolha do local, um hotel à beira mar na orla de Salvador. A observação sobre o cenário ocorreu antes da conversa que lembrou do longo processo de recuperação, falou da volta aos palcos, ao carnaval e, sobretudo, refletiu e revelou detalhes e histórias sobre a música baiana.
Já são quase quatro anos de uma recuperação que ainda não tem data para acabar. Em 2013 Netinho foi internado pela primeira vez, quando iniciou uma sequência de idas e vindas aos hospitais. Sofreu três acidentes vasculares cerebrais, perdeu a voz algumas vezes, encarou a depressão e acreditou que havia chegado no fim da vida. Assumiu os problemas causados pelo uso de anabolizantes, resistiu, encarou uma maratona de tratamentos e hoje celebra o retorno à música e, muito mais que isso, "o fato de estar de pé, com voz, vivo”.
Saúde
“Acordei no hospital e, além de não ter memória e movimentos do corpo, tentei falar, perguntar o que era aquilo. Quando abri a boca não saia nada. Imagine a pessoa que viveu a maior parte da vida em função da sua voz se ver sem voz. Eu acho que teria enlouquecido se não tivesse tão cheio de remédios que me tiravam a consciência. Comecei o tratamento ainda no hospital, e quando tava recuperando a voz, tive três AVCs em uma semana. Tudo me levava a não acreditar”, lembra.
“Acordei no hospital e, além de não ter memória e movimentos do corpo, tentei falar, perguntar o que era aquilo. Quando abri a boca não saia nada. Imagine a pessoa que viveu a maior parte da vida em função da sua voz se ver sem voz. Eu acho que teria enlouquecido se não tivesse tão cheio de remédios que me tiravam a consciência. Comecei o tratamento ainda no hospital, e quando tava recuperando a voz, tive três AVCs em uma semana. Tudo me levava a não acreditar”, lembra.
Ainda em São Paulo encontrou um especialista que desenvolveu uma técnica para recuperar pacientes que sofreram AVC e ali retomou a esperança, a princípio de conseguir voltar a falar. “Não tenho a voz como era antes, cantando ainda não. Terei, mas entendo e aceito que é um processo longo”, pontua.
Segundo ele, além da vontade de retomar a carreira, a volta aos palcos faz parte do tratamento. “Isso envolve um pouco de mente, também. Mesmo fazendo os exercícios em minha casa, ou no médico, a minha mente diz pra mim mesmo que aquilo não é de verdade”, conta. O primeiro show completo após 2013 ele fez em uma festa no réveillon do Rio de Janeiro: “na última música eu gritava no palco de felicidade”, conta.
Os longos períodos no hospital levaram Netinho aos estudos da neurociência e da física, disciplinas que, segundo ele, foram primordiais no seu processo de recuperação. “Como eu estudei engenharia, sempre gostei de matemática e voltei a estudar na internet. E conversando com um estudante ele me enviou um livro de física quântica. E aí não parei mais. Um livro atrás do outro, pesquisa atrás da outra. E, quem diria, uma disciplina cartesiana me levou a Deus e à espiritualidade”, conta o artista que pretende colocar a positividade e a mensagem que aprendeu sobre a força da mente no seu novo trabalho, que deve sair para o verão de 2018.
“O que tenho em mente ainda é muito difícil de expressar em palavras. Vai levar um tempo até começar a gravar músicas novas, porque quero que elas venham com o significado do que eu sou hoje”, diz ele, que “não se enxerga no atual mercado da música baiana” e quer produzir "algo diferente".
Segundo ele, além da vontade de retomar a carreira, a volta aos palcos faz parte do tratamento. “Isso envolve um pouco de mente, também. Mesmo fazendo os exercícios em minha casa, ou no médico, a minha mente diz pra mim mesmo que aquilo não é de verdade”, conta. O primeiro show completo após 2013 ele fez em uma festa no réveillon do Rio de Janeiro: “na última música eu gritava no palco de felicidade”, conta.
Os longos períodos no hospital levaram Netinho aos estudos da neurociência e da física, disciplinas que, segundo ele, foram primordiais no seu processo de recuperação. “Como eu estudei engenharia, sempre gostei de matemática e voltei a estudar na internet. E conversando com um estudante ele me enviou um livro de física quântica. E aí não parei mais. Um livro atrás do outro, pesquisa atrás da outra. E, quem diria, uma disciplina cartesiana me levou a Deus e à espiritualidade”, conta o artista que pretende colocar a positividade e a mensagem que aprendeu sobre a força da mente no seu novo trabalho, que deve sair para o verão de 2018.
“O que tenho em mente ainda é muito difícil de expressar em palavras. Vai levar um tempo até começar a gravar músicas novas, porque quero que elas venham com o significado do que eu sou hoje”, diz ele, que “não se enxerga no atual mercado da música baiana” e quer produzir "algo diferente".
‘A galinha dos ovos de ouro morreu’
Netinho faz uma importante ressalva antes de falar sobre a música baiana e o axé: “Eu não tenho como falar da atualidade do axé, porque de 2013 até o final de 2015 eu vivia dopado, como se tivesse ligado e desligado ao mesmo tempo. O que eu posso falar é até onde eu vivi o axé”. Nessa "vivência", o baiano de 50 anos acumula cinco discos na Banda Beijo, onde despontou, 14 na carreira solo, dois DVDs e uma indicação ao grammy na história com a música da Bahia.
Netinho faz uma importante ressalva antes de falar sobre a música baiana e o axé: “Eu não tenho como falar da atualidade do axé, porque de 2013 até o final de 2015 eu vivia dopado, como se tivesse ligado e desligado ao mesmo tempo. O que eu posso falar é até onde eu vivi o axé”. Nessa "vivência", o baiano de 50 anos acumula cinco discos na Banda Beijo, onde despontou, 14 na carreira solo, dois DVDs e uma indicação ao grammy na história com a música da Bahia.
Questionado sobre o termo “crise do axé”, pergunta que vem sendo respondida pelos artistas baianos desde o declínio da música feita no estado entre as mais tocadas do país, Netinho lembra que já procurava artistas para discutir o movimento e alertava empresários desde a década de noventa.
“Entendo o declínio do axé. Em 95 eu fiz um show em Aracaju, onde estavam todos os ‘donos’ dos carnavais do Nordeste. Depois do show eu fiz o comentário com um deles e disse: ‘vocês estão destruindo a galinha dos ovos de ouro, isso vai acabar’. Um deles chegou a questionar se eu estava bêbado, e eu não estava. Não vou explicitar aqui o que me levou a fazer aquele afirmação, mas hoje eu vejo que não estava equivocado. Aconteceu. A galinha dos ovos de ouro morreu. Não falo de artistas, de música, isso tudo permanece: compositores fantásticos, artistas fantásticos, com seus egos mais fantásticos ainda, tudo continua. A atenção que se dava é que não se dá mais. Por razões mercadológicas e de descrédito até dos artistas. Eles pensam que a música está fora”, alerta.
Segundo Netinho, falta ao artista baiano voltar a acreditar em seu potencial. “O artista novo de axé quer fazer pop, quer fazer sertanejo, que gravar funk”, lamenta. E garante: “tenho 50 anos, e quero viver mais 50 fazendo música axé, música feliz”. Para ele, a falta, ou a pouca noção de coletividade pode justificar o cenário atual da música feita na Bahia.
“Tentei reunir artistas pra falar sobre o Axé e ninguém quis. Vou dar um exemplo: em 98 fui convidado para produzir um disco com novos cantores da época, em homenagem a Caetano [Veloso]. Gravei o disco em três semanas. Porém, uma das faixas eu tive a ideia de reunir todos os cantores para cantarem juntos a música Tropicália. E levei três meses apenas tentando reunir as pessoas. Às vezes eu ligava pra um que dizia ‘fulano vai participar’? Porque se for eu sinto muito, mas não participo’, ligava pra outra que me dizia a mesma coisa. Eu não compactuo com isso”, diz, lembrando trecho de entrevista que deu para um documentário: “eu disse que o axé sempre foi assim: cada um por si e Deus por todos”, frisa. “Eu quero ver qual o artista da Bahia que tem coragem de falar isso. Porque isso é uma verdade, mas ninguém quer falar”.
As questões que ele deixou em aberto, salienta, são para se preservar. “Por isso que digo que determinadas coisas eu sei, mas não vou falar publicamente, por conta daquele dizer que diz que ser franco é angariar inimigos”.
Novos tempos, Netinho quer iniciar a renovação de sua música no show que faz no Camarote do Nana no sábado (25) de carnaval: “Vou fazer uma homenagem aos 90, que pra mim trouxe uma das melhores épocas da música baiana, leve, pra cima, feliz, que ajudava pessoas, mesmo que inconscientemente, a sair um pouco dos seus problemas. “Honro o axé, tenho orgulho de cantar axé, cada música, disco e coreografia que fiz. O axé é alegria, positividade, e é o que vou continuar fazendo”, promete.
“Tentei reunir artistas pra falar sobre o Axé e ninguém quis. Vou dar um exemplo: em 98 fui convidado para produzir um disco com novos cantores da época, em homenagem a Caetano [Veloso]. Gravei o disco em três semanas. Porém, uma das faixas eu tive a ideia de reunir todos os cantores para cantarem juntos a música Tropicália. E levei três meses apenas tentando reunir as pessoas. Às vezes eu ligava pra um que dizia ‘fulano vai participar’? Porque se for eu sinto muito, mas não participo’, ligava pra outra que me dizia a mesma coisa. Eu não compactuo com isso”, diz, lembrando trecho de entrevista que deu para um documentário: “eu disse que o axé sempre foi assim: cada um por si e Deus por todos”, frisa. “Eu quero ver qual o artista da Bahia que tem coragem de falar isso. Porque isso é uma verdade, mas ninguém quer falar”.
As questões que ele deixou em aberto, salienta, são para se preservar. “Por isso que digo que determinadas coisas eu sei, mas não vou falar publicamente, por conta daquele dizer que diz que ser franco é angariar inimigos”.
Novos tempos, Netinho quer iniciar a renovação de sua música no show que faz no Camarote do Nana no sábado (25) de carnaval: “Vou fazer uma homenagem aos 90, que pra mim trouxe uma das melhores épocas da música baiana, leve, pra cima, feliz, que ajudava pessoas, mesmo que inconscientemente, a sair um pouco dos seus problemas. “Honro o axé, tenho orgulho de cantar axé, cada música, disco e coreografia que fiz. O axé é alegria, positividade, e é o que vou continuar fazendo”, promete.
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