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domingo, 5 de março de 2017

FAZENDA DA ESPERANÇA SÃO BENTO NA LUTA CONTRA A DEPENDÊNCIA.

A comunidade terapêutica, instalada em Sobral há oito anos, tem servido de amparo e resgate da autoestima

Fonte:DN/ por Marcelino Júnior - Colaborador
regional
Cercados pela natureza, os acolhidos se dividem entre as tarefas diárias ( Fotos: Marcelino Júnior )
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O dia começa às 8h, com atividades no campo, padaria, marcenaria e cozinha, momentos de descanso, lazer e missa. As atividades são encerradas às 22h
Sobral. Ao chegar à Fazenda da Esperança São Bento, o visitante é recebido com cordialidade e um brilho no olhar pelas pessoas que ali moram. E pode-se dizer que, sem trocadilhos, esperança é o que não falta nesse lugar que abriga 40 homens, de idades que vão dos 15 aos 65 anos. Todos vivenciam a mesma experiência, que incentiva a convivência em família, o trabalho como processo de aprendizado e a espiritualidade em busca de um novo sentido para a vida que, no caso dos acolhidos, sem exceção, está literalmente afundada num "turbilhão de emoções e forças negativas, que puxam o ser humano para o fundo do poço, independentemente de sua condição financeira ou familiar, restando, em alguns casos, a morte como tentativa de fuga", como descrevem alguns deles.
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Comunidade
A fazenda, localizada no distrito de Patriarca, a cerca de 23Km da sede de Sobral, no Norte do Estado, é uma comunidade terapêutica que atua há oito anos no Município, na recuperação de pessoas com dependência química. Nesse período de intenso trabalho, cerca de 500 homens já passaram pela estrutura, que é a mesma presente em 17 países, em 30 anos de existência. No terreno, encoberto pelo verde que a chuva dos primeiros meses do ano trouxe, grupos de jovens se revezam no trabalho diário, que começa bem cedo e se estende pelo resto do dia.

A paisagem, onde se instala a fazenda, num terreno de 95 hectares, revela beleza e transmite uma paz refletida pela imagem de animais pastando, a céu aberto, onde homens circulam de lá para cá, sempre ocupados com seu trabalho, ou algo por realizar. Fábio de Aguiar, 29, é uma dessas pessoas. Maranhense de Coroatá, o jovem teve o primeiro contato com a terapia da fazenda em 2006, em Pacatuba, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Mas, após uma recaída, decidiu dar uma outra chance a si mesmo, e resolveu buscar novo apoio.
Trajetórias
O recomeço, como ele mesmo fala, foi há um ano e dois meses, mas as marcas de uma vida desregrada, que começou na adolescência, ainda o acompanham. "Eu comecei com álcool, por conta das amizades. Tinha 14 anos. Depois, vieram a maconha, cocaína e, por fim, o crack, já adulto. Cheguei a roubar para sustentar o vício. Perdi o contato com minha família; morei na rua. Levantei, caí. Foram anos de inferno, até que atendi aos apelos da minha mãe, que nunca desistiu de mim, e resolvi dar uma outra chance para minha vida", disse, com serenidade nos olhos marejados, o jovem que hoje é um dos padrinhos, como são chamados os que acolhem quem chega, em busca do mesmo apoio, da mesma esperança.
A moradia é confortável, dividida em quatro casas amplas, mais um prédio que abriga uma padaria, cozinha industrial e refeitório, além do galpão, onde são desenvolvidos trabalhos de marcenaria e artesanato. Fábio é um dos artesãos, tarefa que desempenha com orgulho e zelo. "Gosto de receber as pessoas, de ensinar a dinâmica da fazenda. Hoje, permaneço por opção minha, no voluntariado. Aqui eu me encontrei como pessoa e como ser humano. A alegria de ver alguém recuperado, com a minha ajuda, retornando para casa, ao lado da família, depois de meses na busca pela autoestima, não tem preço", afirma.
Outro acolhido, que buscou por ajuda, e decidiu ficar, foi o paraense Ricardo Cardoso Pinheiro, 24, que, em 2011, fez o tratamento em Belém do Pará, para se livrar da dependência de cocaína e maconha. A experiência transformou a vida do jovem, que, após anos de "degradação do corpo e da alma", como ele descreve, aceitou a ajuda da mãe, que sempre insistiu na internação. Aliás, apoio da mãe é o que não falta, em todas a histórias de queda e busca por ascensão, quer seja espiritual, humana ou social, dos que chegam à fazenda com um certo embaraço e vergonha.
Na busca por alimentar o desejo pelo consumo, que começou na adolescência, Ricardo chegou a traficar drogas, se distanciando dos pais, irmãos, esposa e filhos. "Durante muitos anos, a minha vida foi de turbulência. Quase no meu limite, o comércio da cocaína ainda me fez ficar viciado. Eu estava realmente perdido; mas devo parte de minha recuperação à minha mãe. A experiência que adquiri na comunidade também me fez pensar que, se eu pude mudar meu destino, os que chegam aqui também podem planejar uma saída melhor para o futuro, como aconteceu comigo, há sete anos", relata o jovem, cujo dia é dedicado à manutenção da estrutura, numa rotina iniciada às 8h, com dedicação ao campo, à padaria, marcenaria e cozinha, momentos de descanso, lazer e missa. As atividades são encerradas às 22h.
Protagonista 
Atleta procura retomar a vida e a carreira
José Gerardo de Vasconcelos Júnior, instrutor de karatê, teve o primeiro contato com drogas aos 14 anos, mesmo já sendo atleta. Achava que tinha controle. Aos 21 anos conheceu o crack. Reincidente, está na Fazenda há quatro meses. Antes de retornar, foi campeão sul-americano de karatê. "Eu era referência para os jovens da minha cidade, com o trabalho social que desenvolvia. Minha meta é recuperar minha vida", diz.
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