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quinta-feira, 8 de setembro de 2016

EROSÃO E VENTOS DEGRADAM PRAIAS E AFETAM OS PESCADORES.

Pesca artesanal e captura de mariscos ficam prejudicadas com as alterações ocorridas no oceano e na costa

 por Marcus Peixoto - Repórter/JC
A precaução contra acidentes faz com que os jangadeiros mantenham suas embarcações na praia. Os riscos de naufrágio são comuns neste período do ano, em que a força eólica é quase o dobro da que ocorre no começo do ano ( Fotos: Kid Júnior )
A crise na produção de peixes e mariscos afeta, especialmente, a comunidade dos Balbinos. Os poderes públicos estadual e municipal afirmam que não há ações de curto prazo para atenuar os prejuízos sofridos pelos trabalhadores
Cascavel. Os ventos fortes, bastante comuns nos meses de agosto e setembro, não apenas estão intensificando a erosão na costa desse Município como agravando a produtividade de pescadores e marisqueiras. Os poderes públicos estadual e municipal afirmam que não há ações de curto prazo para atenuar os prejuízos sofridos pelos trabalhadores.
A força dos ventos e a energia que exerce sobre as ondas do mar foram verificadas com maior intensidade há três anos. O avanço marinho sobre as edificações na Caponga, Barra Nova e Águas Belas são bem acentuados. Mas é no Balbino que se verifica maiores perdas pela degradação. Com a intensificação dos ventos, o movimento da areia obstrui desembocaduras, soterra barracas e casas de comerciantes e moradores, e inibe o pescador de ir para o mar. Os que ousam enfrentar as oscilações eólicas já são conscientes dos perigos que podem passar, desde a avaria das embarcações até mesmo naufragar sem a possibilidade de obter socorro.
A crise na produção de peixes e mariscos afeta, especialmente, a comunidade dos Balbinos. Segundo o pescador José Manuel da Silva, não é nenhuma novidade nesta época do ano a jangada ficar mais tempo na praia do que no mar.
Sobrevivência

Para José Manuel, a força do ar e das ondas se comparadas com a fragilidade das embarcações é bastante desigual, e quase sempre há os casos para se contar daqueles que saíram no barco para pescar e não mais voltaram.
"Nós sabemos do perigo, mas a luta maior é pela sobrevivência. Se não há peixe, não há o que comer", disse. Ele lembra que não há no momento o defeso da lagosta, o que motiva a captura por um retorno mais lucrativo.
Entre ficar em casa ou ir para o mar, o certo é não se arriscar, como diz José Manuel. O problema é que outra renda complementar vem das marisqueiras, que igualmente são prejudicadas pela erosão marinha.
Esse é o caso da marisqueira Maria Luíza de Sena. Ela diz que a interrupção sempre frequente da desembocadura do mangue fez desaparecer os crustáceos, sobretudo o sururu, que garantia o sustento das famílias em épocas que os maridos jangadeiros suspendem as atividades.
"Hoje, não há interesse das novas gerações pelo trabalho e mesmo que houvesse não há o que fazer no mangue porque não há mais o que capturar".
Desalento
Para Maria Luíza, o desalento maior é por conta da falta de apoio governamental. Ela diz que os programas sociais já não atendem às necessidades das famílias e os desafios para um meio de subsistência ficam cada dia mais difícil.
"O rio está acabado. Não tem como a gente sobreviver mais como no passado", desabava a marisqueira, que lembra não de um passado de riqueza, mas sim de fartura, quando a comida sobrava na mesa.
Para o secretário de Finanças de Cascavel, Rocha Neto, as ações assistenciais voltadas para os pescadores são as mesmas implantadas pelo governo federal, como o seguro-defeso e o bolsa-família.
A Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa) também informa que não há programas específicos para os pescadores que interrompem o trabalho, bem como ainda não foi feito um levantamento dos prejuízos da pesca artesanal neste período.
Segundo o professor Carlos Teixeira, do Laboratório de Ciências do Mar (Labomar) e doutor em Oceanografia, o fato é que há uma intensificação maior dos ventos neste período do ano. A explicação decorre da diferença de pressão alta para baixa, com o aquecimento no hemisfério norte, onde há a atuação do verão.
"Se formos comparar com janeiro e fevereiro, a intensidade dos ventos neste mês praticamente duplica", afirma o pesquisador do Labomar.
Para Carlos Teixeira, os efeitos dos ventos causam impacto no oceano, com maior ondulação e correntes muitos fortes, tornando perigoso a atividade de captura no mar. No entanto, lembra que essa mesma ondulação volta a ocorrer no início do ano, como nos meses de janeiro e fevereiro, embora com menor intensidade dos ventos.
"Certamente, que os pescadores são mais cuidadosos. Eles sabem dos riscos que correm quando há maior ondulação. Daí os avisos da Marinha. É preciso estar atento para não sofrer acidentes graves", salienta.
ENQUETE
Como vencer a crise da pesca?
"Nós sabemos do perigo, mas a luta maior é pela sobrevivência. Se não há peixe, não há o que comer. O problema é que outra renda complementar vem das marisqueiras, que igualmente são prejudicadas pela erosão"
José Manuel da Silva
Pescador
"Os programas sociais já não atendem às necessidades das famílias e os desafios para um meio de subsistência ficam cada dia mais difícil. O rio está acabado. Não tem como a gente sobreviver mais como no passado"
Maria Luíza de Sena
Marisqueira

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