Presidentes lamentam falta de apoio financeiro por parte da FCF e do Governo do Estado
Fonte:DN/Por Lucas Ribeiro, lucas.ribeiro@diariodonordeste.com.br
Bicicleta será sorteada no intervalo da partida de estreia do Limoeiro na Série B. (Foto: reprodução/Instagram)
O futebol profissional, nem de perto, se define pelos salários astronômicos e folhas milionárias das equipes de ponta do cenário nacional. Sem a torcida de massa e o apelo comercial de Ceará e Fortaleza, clubes de menor expressão sofrem para colocar 11 em campo no Estado. A situação entre as equipes que disputarão a Série B do Campeonato Cearense em 2019 chega a ser lastimável.
Em Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, o time homônimo conta com o dinheiro de uma rifa de bicicleta — doada por dois torcedores — para ajudar nas contas. Sem aporte financeiro, a equipe utilizará garotos do sub-20 no campeonato. Os jovens não terão salário e vestirão a camisa do Limoeiro gratificados apenas pelo sonho de se tornar um atleta profissional.
O Cavalo de Aço, como é conhecido no Interior, aposta em programa de sócio-torcedor, com planos que variam de R$ 10 a R$ 100. Sem estrutura física, o Limoeiro conta com os pontos de uma autoescola e uma banca para realizar as adesões. Para todo o campeonato, o presidente Marcos Júnior confidencia ao Blog o custo de R$ 70 mil para manter o time, apenas para comissão técnica e demais despesas com o campeonato. Na Série B, os clubes pagam todos os custos: desde passagens e hospedagens a maqueiros e ambulância obrigatória.
A falta de apoio financeiro da Federação Cearense de Futebol (FCF) é assunto recorrente entre os presidentes. “Nós não temos verbas. Esperamos vender 500 bilhetes (a R$ 5 cada) com a rifa para arrecadar algo. Nós pagamos muito para a Federação e não recebemos nada, nenhuma ajuda. Pagamos R$ 4 mil de anuidade só para poder participar das competições e R$ 200 reais para inscrever um jogador na FCF, sem contar com o valor pago à CBF. Nós somos responsáveis por todas as despesas e a Federação não entra com nada”, afirma Marcos Júnior.
O mandatário tenta ainda conseguir o mesmo apoio da Prefeitura de Limoeiro do Norte que obteve ano passado, quando o poder municipal auxiliou com os custos dos jogos fora de casa. O aporte foi de aproximadamente R$ 27 mil.
Situação séria também no Cariri
Suarez Leite, presidente do Campo Grande, de Juazeiro do Norte, relata o que pode ser inimaginável para os amantes do futebol: patrocínio por comida. “Município e Estado não nos apoiam. Os apoios que temos aqui são de permuta. Para colocar uma propaganda, o cara dá uma fruta, um alimento, mas apoio financeiro é zero”, confessa o dirigente.
A projeção da folha da equipe é de R$ 20 mil mensais para a Série B. “Sem apoio está ruim demais. A Federação leva mais do que todos e não apoia em absolutamente nada. Não temos recursos”, diz Suarez, que também aposta em programa de fidelidade para o torcedor.
Ainda na terra do Padre Cícero, outro clube passa pela adversidade semelhante. O Icasa, gigante ao quase chegar a Série A do Brasileirão nesta década, disputa a Série B do Estadual após passar por má gestão. Atualmente, conta com atletas no elenco bancados por torcedores e promove bingos e venda de camisas para captar verba para fazer “um time mediano e buscar o acesso”, como define o presidente França Bezerra. Hoje o time conta com 18 jogadores alojados em uma pousada da cidade.
Como os colegas, o dirigente do Verdão lamenta a falta de apoio financeiro da FCF e as taxas cobradas pela entidade. “Nós só temos a sede. Passamos por um período de ascensão muito grande, éramos a grande menina dos olhos de ouro da FCF, mas hoje nem nos olham. Acho que eles têm um potencial muito grande para captar patrocinadores para a Série B. A Federação como tutora deveria apoiar os pequenos. Vai muito dinheiro da gente, mas não vem nada de lá”, conta França, que faz ainda apelo por ajuda de empresas que queiram apoiar a equipe pela contrapartida do incentivo fiscal.
A Prefeitura de Juazeiro do Norte, segundo França, se mostra apta a ajudar os clubes da região, porém, sem as certidões negativas necessárias para receber verba do poder público, o Icasa não pode contar com o suporte.
Federação rebate
Procurada pelo Blog, a FCF afirma que tem uma empresa contratada para a captação de recursos com o objetivo de arcar com os custos das competições cearenses. “Um exemplo foi a venda do naming rights da Série A para Chevrolet e Polo Wear (neste ano), da Série B em 2014 para a New Magic e da Fares Lopes para a Unimed”, diz em nota.
No comunicado, a entidade ressalta ainda “que a competição [Série B] é profissional e participam clubes profissionais, mesmo assim, em anos anteriores, a FCF arcou com diversas despesas da Série B, como de outras competições que realiza.
“A Federação Cearense de Futebol investe na FCFTV (webtv com transmissão Full HD) para que os clubes possam conseguir patrocínios e venda de publicidades, por meio das transmissões dos jogos nesta plataforma, e assim fomentar a competição, clubes e atletas. Salientamos que as TVs abertas ainda não tiveram interesse em pagar para transmitir partidas do Cearense Série B.
Em 2018, as transmissões dos jogos do Cearense Série B pela FCFTV, atingiram um público de mais de 220 mil telespectadores”, acrescenta.
Em 2018, as transmissões dos jogos do Cearense Série B pela FCFTV, atingiram um público de mais de 220 mil telespectadores”, acrescenta.
Dinheiro do Governo ainda é promessa
Marcos Júnior, do Limoeiro, afirma ter recebido a promessa do governador Camilo Santana para dar suporte ao Campeonato Cearense Série B, durante a inauguração de uma delegacia no Município.
Segundo ele e outros presidentes, há um projeto no Monitoramento de Ações e Programas Prioritários (MAPP) do Governo do Estado do Ceará no valor de R$ 1 milhão que seria repassado aos clubes. Até o momento, as equipes não receberam a verba. Procurado, o Gabinete do Governador se comprometeu em buscar o projeto em questão, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.
A competição
Prevista para iniciar no dia 7 de abril, a Série B conta com 10 equipes, divididas em dois grupos de cinco, regionalizados. As equipes enfrentam adversários dentro do mesmo grupo em ida e volta, classificando os quatro primeiros para a próxima etapa. O último colocado de cada grupo será rebaixado para a Série C.
Os oito classificados duelam em mata-mata em ida e volta (com exceção da final) até o fim do certame. Os finalistas terão vaga garantida na elite do futebol cearense em 2020. A primeira rodada terá os seguintes jogos: Maranguape x Caucaia, Tiradentes x União, Esporte Limoeiro x Crato e Pacajus x Campo Grande. Maracanã e Icasa estrearão na segunda rodada. Clique aqui para conferir a tabela básica do torneio.
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