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domingo, 9 de julho de 2017

NOBREZA QUE VIROU PASSADO.


Time bicampeão do Maguary (1943 e 1944)
Uma das características marcantes dos primeiros anos do futebol cearense foi o seu caráter elitista e excludente. E talvez o Sport Club Maguary, fundado em 24 de junho de 1924, seja o que melhor representa o quanto o futebol era feito pelas elites no começo da década de 20. Fundado pela família Barbosa Freitas, por quase 20 anos, entre as décadas de 1920 e 1940, o time, também conhecido como o “Clube dos Príncipes”, figurou entre as principais forças do esporte no Estado. 
Força essa que resultou em títulos cearenses, um total de quatro, e a rivalidade com o Ceará Sporting Club para ser o clube de maior torcida. Pode até parecer contraditório, mas mesmo sendo feito pelas elites e para as elites, o clube teve um grande apelo popular, e pessoas de várias classes sociais criaram simpatia e amor pelo clube dos “ricos”. 
Por três décadas o time resistiu e figurou entre os grandes. Em títulos, o Maguary ainda é o quarto maior campeão cearense, atrás somente de Ferroviário, Fortaleza e Ceará. 
Sede própria

O clube queria mesmo mostrar que era diferente e estava à frente do seu tempo. Em um período em que o Campo do Prado, no bairro Benfica, era o palco principal dos jogos, o Maguary resolveu ter um campo e uma sede própria. Inicialmente o clube arrendou o Campo do Alagadiço, onde hoje é a Igreja de São Gerardo. A segunda sede ficava situada no bairro do Benfica. Mas foi em abril de 1946 que o time ganhou um sede social de verdade. Simpatizantes e torcedores se uniram e ergueram a sede do clube no bairro de Fátima (entre as ruas Padre Roma e Deputado João Pontes). Historiadores relatam que na sede do Maguary praticava-se o esporte amador e ocorriam atividades festivas que marcaram a vida da cidade, principalmente nos alegres anos dourados, com o entusiasmo dos frequentadores prolongando-se pelos anos seguintes.
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Antiga sede do Maguary
“Em 1939 eu jogava no segundo time do Fortaleza e um amigo me chamou para atuar no Maguary. Lá tinha departamento de futebol, clube social e uma vida noturna bem agitada. Esses atrativos faziam com que todos os jogadores lutasse para jogar lá”, lembra o senhor José Cândido, ex-jogador do Maguary, América, Gentilândia e Fortaleza. Com 95 anos de idade, o ex-jogador ainda lembra com detalhes do período que jogou no Clube dos Príncipes. “Era a nossa diversão ir para as matinês promovidas pelo clube aos domingos. Como os jogos eram neste dia, ao final das partidas, íamos viver o lado dançante do clube”, conta. 
Força no futebol
Assim como dentro das quatro linhas, o padrão de organização foi visto fora dele. A primeira competição oficial foi o estadual de 1927. Vestidos de branco, com uma listra preta horizontal na altura do peito, os atletas ganharam o apelido de cintanegrinos e mais tarde “Clube dos Príncipes”.
O crescimento dos cintanegrinos veio associado aos títulos. O clube disputou o Cearense entre 1927 e 1945, vencendo quatro edições (1929, 1936, 1943 e 1944) e levando sete vice-campeonatos. “O time conseguiu formar grandes elencos. Com os sócios investindo, era possível pagar os jogadores que atuavam no profissional. O que mais encantava em atuar pelo time era ver a grande torcida que o Maguari conquistou nessas décadas”, lembra Cândido. 
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Time da base do Maguary em 1973
Porém, sua derrocada no futebol foi vertiginosa. Após vencer de forma arrasadora e invicta o Campeonato Cearense de 1944, o time apostou tudo no tricampeonato de 1945. Mas existiu o Ferroviário no meio do caminho.
O Tubarão da Barra venceu o título, acabou com o sonho do Tri e gerou uma crise sem precedentes no Maguary, que não teve forças para superar a derrota e resolveu encerrar suas atividades no futebol profissional. Após seu fim, sua torcida acabou “migrando” para a dos times do Ferroviário e principalmente o Fortaleza, devido à rivalidade que os cintanegrinos tinham com o Ceará.
Pesquisadores contam que os esforços e recursos do clube foram revertidos para a construção da sede social que o Maguari possuiu na Rua Barão do Rio Branco. Se por um lado o clube encerrou a vida nos gramados, nos anos seguintes o clube continuou sua vida social e ainda ensaiou uma volta aos campos, em 1972. Não foram felizes novamente e em 1975, o clube fechou as portas em definitivo. Em 2009, mais um recomeço frustrado. O “novo” Maguary chegou a disputar a terceira divisão do estadual de 2009 a 2013, mas não obteve sucesso.

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