Nos últimos seis anos, de forma proporcional, apenas Florianópolis fechou mais leitos que a capital cearense
por Thatiany Nascimento - Repórter
Fortaleza fechou 441 leitos de internação pediátrica entre 2010 e 2016. A desativação das vagas destinadas às crianças que precisam permanecer em hospitais por mais de 24h foi, em números proporcionais, a segunda maior entre as 27 capitais do Brasil, conforme levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e divulgado ontem. Com a redução, o número de leitos passou de 1.244, em 2010, para 803, no ano passado. Isto representa uma diminuição de 35%. Apenas em Florianópolis, onde o índice de corte chegou a 53%, a perda foi maior que na capital cearense.
O levantamento teve como base as informações do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde. Os números mais atualizados referem-se a novembro de 2016. De acordo com a publicação da SBP, se for considerado somente os leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), a queda foi de 304, passando de 1.032 em 2010 para 668 em 2016. Uma redução equivalente a 35%.
Já na rede complementar (particular e filantrópico), segundo a pesquisa, em 2010 contava com 212 leitos, mas no ano passado este número era de apenas 135. De acordo com o levantamento, dentre as capitais, apenas Manaus, Belém, Macapá e Recife tiveram acréscimo de leitos pediátricos e Rio Branco manteve os mesmo índices, neste intervalo de tempo.
Esta diminuição é preocupante, segundo a pediatra e presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, pois além de retardar o diagnóstico, compromete o início do tratamento adequado.
"Esse fechamento vem acontecendo desde 2010 e a população tem aumentado. O que a gente vê é, que, em alguns casos crianças e adolescentes que são atendidos precisam de hospitalização. Muitas vezes, médicos dos prontos atendimentos e das UPAs, precisam internar essas crianças para ampliar o diagnóstico e começar um tratamento imediato, mas não têm para onde mandá-las", ressalta.
Demanda
As doenças que prevalecem em crianças e adolescentes, segundo a presidente da SBP, são sazonais e nos primeiros semestres de cada ano, geralmente, acentuam-se as viroses gastrointestinais, que em muitos casos, demandam internações. Outras enfermidades são dengues mais severas, além da recorrência dos episódios de alergias, infecções respiratórias e pneumonia.
Em resposta à divulgação do levantamento, o Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que a análise da oferta de leitos pediátricos "deve considerar a mudança no perfil epidemiológico e tendência mundial de desospitalização. Dessa forma, tratamentos que antes exigiam internação passaram a ser feitos no âmbito ambulatorial e domiciliar".
A nota diz ainda que, o órgão federal, nos últimos anos, tem investido na expansão de leitos pediátricos e neonatais "para o atendimento de maior complexidade, destinados a pacientes graves e que exigem maior estrutura e esforço de profissionais. O crescimento da oferta de leitos para esses casos foi de 15% entre 2010 e 2016".
A presidente da SBP, Luciana Rodrigues, ressalta que a entidade e os pediatras concordam com o processo de desospitalização, no entanto, neste cenário, segundo ela, são crianças que ainda carecem de hospitalização e continuam com grandes dificuldades para a obtenção de leitos. "Nós queremos discutir com o Ministério da Saúde. Já fomos uma vez e vamos novamente para debatermos várias outras questões que acometem a criança brasileira".
O Diário do Nordeste contactou a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sobre o assunto, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
Fique por dentro
Ceará tem 1,77 leitos por mil nascidos vivos
O Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), estima que a proporção ideal de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal é de no mínimo 4 para cada 1.000 nascidos vivos. Porém, dados do Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), segundo a SBP, constatam que este parâmetro só é seguido no Espírito Santo e no Rio de Janeiro. No Ceará, a taxa é de 1,77 leitos para cada mil nascidos vivos.
Conforme a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), o Ceará tem 704 leitos pediátricos e neonatais. Destes, 68 são de UTI neonatal, 49 de UTI pediátrica e 151 de UTI pediátrica de médio risco. Em sete anos, garante a pasta, o número de leitos pediátricos e neonatais foram ampliados e "a implantação de novos leitos refletiu positivamente na descentralização do atendimento especializado".
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