A propagação de conteúdos falsos promove a quebra do sentimento de confiança e faz com que as pessoas se sintam desamparadas, conforme descreve Kamila Fernandes, doutora em Comunicação
Em um momento de pandemia de Covid-19, em que a informação é base para a tomada de decisões, mais do que nunca, é preciso ter cautela. Se o conteúdo desse texto não parece confiável, alguns minutos de pesquisa em outros meios podem garantir um embasamento melhor e mais propriedade para analisar o assunto. A dúvida é necessária e reflete os efeitos da propagação de 'fake news', que, apesar do termo para "notícias falsas", não se classificam como notícias.
O conteúdo falso, construído em formato noticioso, faz parte de estratégias de desinformação, que apresentam mentiras no intuito de levar as pessoas a acreditarem em algo a fim de alcançar determinados objetivos, conforme explica a coordenadora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), Kamila Fernandes, doutora em Comunicação.
"Tem 'fake news' que são usadas para ganhar dinheiro, relacionadas a 'invenções milagrosas' da área da saúde que não têm nenhuma comprovação científica, mas são colocadas como grandes curas, do câncer ou da Covid-19, por exemplo. E tem outras com intuito político, tanto de desqualificar adversários até criminalizar setores da sociedade ou beneficiar diretamente certas figuras políticas como grandes salvadores da pátria", detalha a especialista.
Desconfiança
Ela pontua que a desinformação não é um 'fenômeno' recente e costuma se propagar através de panfletos ou conversas, como ainda acontece. O que mudou foi o recurso das redes sociais, que potencializa a propagação de conteúdo falso e alcança um número maior de pessoas, independentemente de sua localização. "É importante ter algum nível de regulação social sobre essas redes para ter punição para quem faz isso de propósito, de má fé", diz Kamila Fernandes.
Em meio às publicações falsas, os meios de comunicação são descredibilizados e colocados como também propagadores de 'fake news', para fazer com que as pessoas se sintam desamparadas em busca de notícias verdadeiras. Assim, voltam-se para grupos e páginas criados para publicar conteúdos fantasiosos.
"O objetivo é esse. Desinformar, causar confusão, causar uma sensação de desconfiança geral na sociedade, estratégias utilizadas para desqualificar a pesquisa acadêmica e científica. Tem grupos que questionam até se a Terra é redonda. Parece piada, mas não é. Tudo é colocado em descrédito, e isso é péssimo para a sociedade porque vai esfacelando a confiança mútua", lamenta a pesquisadora.
Fernandes recomenda que, ao receber uma notícia pelas redes sociais, é mais indicado pesquisar sobre o tema na própria Internet, antes de compartilhá-lo. É importante observar se a notícia também foi divulgada em outros meios de comunicação. "Quando a pessoa não tem esse costume de consultar, ela vai receber aquilo como verdade e pronto. Mas o melhor seria desconfiar", avalia.
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