Rio - Localizada às margens do Rio Preto, em Santa Rita do Jacutinga (MG), na divisa com o Estado do Rio de Janeiro — altura de Valença, no Sul Fluminense —, a Fazenda Santa Clara, a maior da América Latina, com 6 mil m² de área construída, resiste ao tempo e já é uma das opções turísticas mais procuradas da região. O imóvel, construído em meados do Século 18, chama a atenção pelas suas medidas colossais e por contar, através de sua imponente arquitetura colonial, a história do Ciclo do Café dos dois estados.
As paredes feitas de rústico pau a pique sustentam três andares. A fachada do conjunto arquitetônico é tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Entre os exageros estão as 365 janelas, em alusão a cada dia no ano; 52 quartos, lembrando as semanas, e 12 salões, os meses. As mais de 10 mil telhas foram moldadas nas coxas dos pelo menos 2,8 mil escravos que lá viveram e por isso apresentam variedade em seus formatos.
"Foi de lá que surgiu a expressão 'feito nas coxas'", detalha Victor Emmanuel de Paula Nogueira, de 48 anos, um dos sócios da propriedade, e um dos oito herdeiros da quarta geração da família Fortes Bustamante. "Cada metro quadrado esconde mistérios e histórias. Das 365 janelas por exemplo, 28 são falsas, pintadas na parede. Era uma forma de disfarçar os cômodos onde ficavam as senzalas (alojamento desconfortável de escravos, sem janelas)", revela. As longas escadas de pedras rudimentares, batizadas de 'Pai Nosso' e 'Ave Maria', onde as pessoas geralmente fazem pedidos ao chegarem nos últimos degraus, viraram lendas.
"Tata-se de uma raridade entre as poucas fazendas de café que ainda existem, incrivelmente bem conservada. Um passeio nela é voltar ao passado", diz o historiador José Reis.
A beleza e imponência da Santa Clara já foram usadas em cenários e novelas famosas, como 'Abolição' (1988) e 'Terra Nostra' (1999), da Rede Globo. Para visitar a fazenda, há uma taxa de R$ 15, com agendamento pelo telefone (32) 99104-1236. Próximo, existe uma hospedaria do empreendimento com diária a R$ 130, com café da manhã.
Em 1824, o comendador Francisco Tereziano Fortes de Bustamante foi agraciado pelo governo imperial com uma sesmaria, onde construiu a Santa Clara, com obras concluídas em 1856. A fazenda foi deixada, com sua morte, para a viúva, Maria Tereza de Souza Fortes, Viscondessa de Monte Verde. O bisavô de Victor, coronel João Honório de Paula Motta, a adquiriu em 1924.
"Antes, com a abolição dos escravos, o imóvel, que tinha vasta plantação de café, acabou em dificuldades financeiras. Assim, a propriedade acabou ficando por mais de 20 anos nas mãos de um banco, até que meu bisavô a comprou", conta Victor.
TESOUROS GUARDADOS
De valor inestimável, além de histórico e sentimental, a fazenda guarda, num museu, móveis antigos e lembranças amargas de objetos usados em torturas nas masmorras. E verdadeiros tesouros, como pedras portuguesas no primeiro piso, trazidas de Paraty. Elas vinham nos fundos de navios que buscavam ouro, e serviam para dar estabilidade às embarcações. Há também um tapete persa feito a mão, de 22 m², no salão principal. Uma capela, com pinturas raras no teto, é onde a comunidade local participa de missa mensal.
Os terreiros de café possuem pisos feito de conchas e óleo de baleia. Em um dos salões, outro mimo: um relógio alemão de 1840, ainda em funcionamento.
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