Unidade de Ponto Atendimento (UPA) Parque Beira Mar estava fechada, com luzes apagadas e 25 funcionários, entre eles três médicos, dormindo. Caso foi parar na polícia e prefeito da cidade, Washington Reis, exonerou de toda a equipe
Por Adriano Araujo e Rafael Nascimento
Rio - Uma inspeção "surpresa" na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Parque Beira Mar, em Duque de Caxias, flagrou 25 funcionários, entre eles três médicos, dois enfermeiros, 12 técnicos e dois seguranças dormindo, na madrugada desta quarta-feira. A incerta do secretário de Saúde da cidade constatou que, enquanto a equipe "tirava uma soneca" com a UPA fechada e luzes apagadas, pacientes em busca de socorro davam de cara com a porta. O prefeito exonerou todos os envolvidos por justa causa e o caso foi parar na polícia.
O secretário municipal de Saúde José Carlos de Oliveira disse que a inspeção aconteceu após denúncias de falta de médicos na unidade. "Recebi uma denuncia ontem a noite dizendo que (a UPA) não estava funcionando. Tomei banho, vesti uma rouba e vim para cá. Fiquei de 23h até 0h e estava tudo funcionando normalmente, inclusive com três médicos atendendo. Então, voltei para casa", lembra o médico. "Então, decidi voltar. Cheguei 3h e estava tudo apagado. Hoje deveria ter cinco médicos, mas só tinham três e estavam dormindo, incluindo a chefe da equipe, dois enfermeiros, 12 técnicos e dois seguranças. Fui procurar e onde estavam? Todos dormindo! Comecei a jogar cadeira pelo chão, fazer barulho e eles acordaram. Fomos todos para a delegacia e o jurídico vai tomar todas as providências. O prefeito determinou a exoneração de todos. Que fique de lição e vamos fazer isso novamente e, sempre que encontrarmos isso, serão exonerados", disse, indignado. Ele já tinha ido à UPA horas antes, mas não constatou irregularidades.
Quando chegou na unidade pela segunda vez e constatou que a mesma estava fechada, inclusive com um pai dando meia volta após ser orientado por um segurança do Hospital Moacyr do Carmo, que fica ao lado da UPA, a procurar outro hospital, ele se revoltou, arrombando porta e ligando luzes, dizendo que Laís Soares Santos Lopes, de 26 anos, que tem deficiências físicas e mentais, seria sim atendida.
"Como tudo é muito difícil e moramos muito longe, medicamos ela em casa mesmo, mas por volta das 2h ela piorou e a barriga dela começou a inchar muito. Minha esposa e eu corremos com ela para o hospital e um segurança do Adão Pereira Nunes nos orientou a procurar outra UPA. O secretário que impediu que ela fosse embora, minha filha é especial e nem tiveram consideração. Agradeço muito ao secretário", disse Haroldo Aragão Lopes, 52, pai da paciente, que está internada na sala amarela e recebendo medicação.
A dona de casa Marlene Soares Santos Lopes, mãe de Lais, lembra que ao chegar na unidade as portas estavam fechadas e tudo escuro. "O meu marido bateu na porta, chamou, implorou pelo atendimento e não veio ninguém. Eu ainda pediu uma ajuda lá (no Moacyr do Carmo) para socorrer a minha filha. Foi ai que o secretário chegou e arrombou a porta e retirou as cadeiras que estavam atrás da porta". De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, Lais foi medicada e está internada na unidade. A jovem ficará em observação até amanhã.
Caso foi parar em delegacia e UPA fica lotada
O caso foi parar na 59ª DP (Caxias), que vai investigar o crime de omissão de socorro. Por conta do fechamento e a ida de todos os funcionários envolvidos para a delegacia, foi solicitado o reforço de outros profissionais e o atendimento só foi iniciado por volta das 7h, provocando filas gigantescas na UPA Parque Beira Mar. De acordo com funcionários, a chefe do plantão de terça-feira teria orientado aos funcionários só atender pessoas que estivessem em estado grave. Essa denúncia será investigada.
A dona de casa Selma Cristina Pereira, 45 anos, chegou com o filho com fortes dores no peito e braço e só conseguiu atendimento depois de muito tempo agonizando. Ela denuncia que Jefferson ficou jogado no chão, sem maca, na porta da UPA, até que finalmente fosse atendido.
"Depois de de muito custo foi atendido, fez eletro e um exame de sangue. Agora está esperando o resultado. Não tem funcionário suficiente para atender. Meu filho está aqui caído e pode morrer, ele é hipertenso e nem consegue respirar de dor. Viemos de Gramacho e estamos aqui, largado", falou.
O secretário disse que a UPA atende todos os municípios da Baixada, o que causa lotação. "Não posso fechar as portas e não atender todo mundo", disse. Ele negou que tinham pessoas do lado de fora, mas O DIA flagrou o filho de Selma na porta da unidade. Outra cena chamou atenção: uma mulher implorava por atendimento, agarrada ao secretário.
Funcionários também relatam que estão há dois meses sem receber salário. Houve denúncias que uma festa teria ocorrido ontem na UPA, mas, segundo o secretário de Saúde José Carlos, o fato não foi flagrado pelas câmeras.
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