Os Holanda e os Gadelha transformaram suas propriedades, de Caatinga e Mata Atlântica, em RPPNs
FONTE:DN/REGIONAL; por Alex Pimentel - Colaborador
Quixadá. Existem muitas maneiras de demonstrar amor ao próximo. Para os ambientalistas, preservar a natureza é uma delas, principalmente em regiões onde os ecossistemas estão ameaçados. Preocupadas com a possibilidade de a degradação ambiental se estender ainda mais pelo Interior do Ceará, duas famílias são exemplos desse sentimento para as futuras gerações. Os Holanda e os Gadelha transformaram suas propriedades, localizadas em dois biomas existentes no Nordeste brasileiro, a Caatinga e a Mata Atlântica, em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
As duas Reservas foram reconhecidas, recentemente, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), elevando para 36 o número de Unidades de Conservação Ambiental em nível Federal, na modalidade RPPN, no Estado do Ceará.
Pelos levantamentos da Associação Caatinga, dedicada à criação dessas unidades ambientais especiais, o Estado é um dos destaques, em nível nacional, em iniciativas dessa natureza. São mais de 15 mil hectares de área totalmente protegida. Os outros estados são o Paraná e São Paulo, explica o biólogo coordenador técnico da Associação, Samuel Portela.
Novas reservas
Quixadá, onde está concentrado o maior parque de cadeias de montanhas monolíticas do Brasil, acaba de ganhar uma dessas reservas. A primeira particular com concentração dessas formações rochosas, a Fazenda Fonseca - Irmã Heloísa e Maurício Holanda, fica situada a cerca de 5Km da Pedra do Cruzeiro, marco urbano natural encravado no coração da cidade.
A propriedade da Família Holanda, com 226,20 hectares, foi reconhecida como reserva federal no dia 10 de junho passado, após 15 anos de luta, explicou a matriarca, Guiomar Holanda, 88 anos.
Esse amor pela natureza começou com os avós, há cerca de 150 anos, época da construção da casa grande da fazenda, outro tesouro da propriedade, a se transformar, futuramente, em um museu histórico-ecológico.
A caça, as queimadas, a extração de madeira, os carvoeiros, tudo ilegal, davam um aperto no coração. Havia necessidade de proteger essa biodiversidade, mas a burocracia tornou ainda mais angustiante o caminho até a conquista da segurança ecológica amparada por Lei federal.
A segunda RPPN, da Família Gadelha, é o Sítio Lagoa, a pouco mais de 10Km do Centro de Guaramiranga, no Maciço de Baturité. A propriedade faz limite de uma extensão da Mata Atlântica com outro bioma genuinamente brasileiro, a Caatinga.
A floresta natural dos Gadelha funciona como uma espécie de parede de proteção dessa transição ambiental. A sua preservação foi pensada pelo engenheiro químico Antônio Eugênio Gadelha e outros seis irmãos. Unânimes, decidiram pela criação da Reserva, com 70 hectares de área.
Hoje responsável, juntamente com o irmão, Luiz Sérgio, pelo sítio transformado em uma empresa, a Yvomar, especializada em arboricultura e fruticultura, Antônio Eugênio justifica a decisão familiar de proteger um pedaço da natureza no Maciço do Baturité aos ensinamentos dos avós e dos pais. Desde cedo aprenderam a importância da necessidade do equilíbrio ecológico, de proteger as encostas da serra, de manter a harmonia biológica e hidrológica.
A ideia já vinha sendo pensada há muito tempo. Nos últimos dois anos, finalmente, começou a se tornar realidade, contando com o valioso auxílio da Associação Caatinga.
Duas décadas
Conforme o representante da Associação Caatinga, o processo de criação das novas RPPNs foi concluído graças ao apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Por meio do projeto RPPN: Conservação Voluntária Gerando Serviços Ambientais, a instituição parceira liberou recursos para a conclusão dos trabalhos topográficos, de georeferenciamento, para a chancela final do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma autarquia em regime especial vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), integrada ao Sistema Nacional do Meio Ambiente.
A ideia da entidade ambiental cearense, com o projeto, era criar, no mínimo, duas reservas particulares e, ainda, a execução de importantes ações previstas no Plano de Manejo da Reserva Natural Serra das Almas, gerida pela Associação Caatinga, que neste ano completa 20 anos de atividades.
A parceria com a Fundação Boticário se iniciou em 2002, quando a Associação apoiou a realização, em Fortaleza, do 3º Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Nos anos de 2007 e 2008 a Instituição executou um projeto de ecodesenvolvimento patrocinado pela Fundação, que fomentava o desenvolvimento sustentável em comunidades rurais de Crateús e contribuía principalmente para a geração de renda.
Vigente desde o início dos anos 90, o Edital de Apoio a Projetos da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza é destinado a ações e instituições de todo o Brasil. O Edital de Apoio a Projetos do segundo semestre de 2018 é exclusivo para ambiente Costeiro-Marinho e o cadastro de propostas está disponível até as 23h59 do dia 31 de agosto.
Fique por dentro
Como funcionam as Unidades de Conservação
O perfil de proteção das reservas particulares reconhecidas na categoria Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) é a garantia de preservação incondicional dessas áreas, de forma perpétua, asseguradas em Lei, pelos seus proprietários. Herdeiros, o Estado, ninguém pode exercer nenhuma atividade adversa à preservação da fauna de da flora, sob hipótese nenhuma, garantindo, assim, nesses santuários naturais eternos, a conservação da diversidade biológica local, e da sua beleza cênica.
As RPPNs surgiram em 1990, com o Decreto Nº 98.914, substituído, em 1996, pelo Decreto Nº 1.922. Com a publicação da Lei Nº 9.985, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), passaram a ser uma das categorias de Unidade de Conservação (UCs) do grupo Uso Sustentável. Após o reconhecimento, têm até cinco anos para elaborarem o Plano de Manejo.
No caso das APAs, as normas de preservação são menos restritivas. A Lei permite alterações no ecossistema, desde que devidamente aprovadas pelos órgãos ambientais, visto que muitas delas estão inseridas áreas urbanas, explica o biólogo Samuel Portela.
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