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sábado, 14 de julho de 2018

CULTIVO DE HORTAS URBANAS TRANSFORMA ÁREAS DA CAPITAL CEARENSE.


Apesar de pouco numerosas, as áreas de produção de orgânicos, têm alterado as vivências comunitárias e melhorado os hábitos alimentares em distintos bairros



Na Horta Comunitária do Bom Jardim são seguidos princípios da agroecologia. No local, crianças atendidas nos projetos do Movimento de Saúde Mental Comunitária aprender a fortalecer a relação com a natureza. ( Foto: Saulo Roberto )

Fonte:DN/Cidade; por Thatiany Nascimento - Repórter


A primeira horta urbana compartilhada em uma praça em Fortaleza fica no Cocó. A população pode colher hortaliças gratuitamente. ( Foto: Kléber A. Gonçalves )
É da horta social do Conjunto Ceará que brota coentro, pimentas, tomates cerejas, alfaces e couves que alimentam a família da aposentada Maria Izamar Davi. Além de colher, a idosa ajuda no plantio das espécies. ( Foto: Ítalo Ribeiro )
Nas mãos sementes e adubo que, aliados à paciência e aos cuidados para plantar, proteger, limpar e aguardar o tempo certo vão render alimentos, remédios, temperos, ornamentos... A produção, mantida sem agrotóxicos, não é comercializada e o cultivo dever ser compartilhado. São essas as "regras" de processos que ocorrem em Fortaleza e, ainda que em pequena escala, têm alterado a vida comunitária e os hábitos alimentares em determinadas regiões. Hortas urbanas recriando funções para espaços ociosos da Capital e qualificando a ocupação. Em diferentes bairros, áreas produtivas são mantidas por organizações da sociedade civil, da iniciativa privada e do poder público. Nelas brotam hortaliças, frutas, ervas medicinais e plantas ornamentais.
Fortaleza não dispõe atualmente de um levantamento oficial que revele quantas hortas urbanas o município tem. A Prefeitura trabalha com um pequeno diagnóstico feito entre maio de 2014 e dezembro de 2016, durante a formulação do Fortaleza 2040 - plano estratégico para nortear o desenvolvimento econômico, social e urbanístico da Capital -, segundo o coordenador de Projetos da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SDE) e coordenador da Câmara Setorial do Desenvolvimento Econômico no Fortaleza 2040, que abriga a Agricultura Urbana, Paulo Barbosa. Apesar da lacuna de dados, o fato é que as iniciativas estão presentes em distintos bairros e desenvolvidas há muito ou pouco tempo têm, modificado a forma de interação entre os moradores e a natureza.

O Conjunto Ceará e a Granja Portugal contam com hortas sociais estruturadas e mantidas pela Prefeitura, desde novembro de 2015 e março de 2016, respectivamente. Cada áreas dessas tem 750 m². É da horta do Conjunto Ceará que brota coentro, pimentas, tomates cerejas, alfaces e couves manteiga que alimentam a família da aposentada Maria Izamar Davi. Moradora do bairro há mais de 30 anos, Izamar é uma das idosas que há dois anos participa do plantio na área, sendo uma das 2.500 pessoas beneficiadas pela colheita.
Para ela, que antes, pela demanda de trabalho como comerciante, sequer pensava em cultivar plantas em casa, a horta é sinônimo de economia e qualidade de alimentação. "O plantio é de 15 em 15 dias. E entre um plantio e outro a gente já tá colhendo o que plantou", explica.
As três estufas sociais (sendo, duas na horta do Conjunto Ceará e uma na Granja Portugal) no primeiro semestre de 2018, produziram, dentre outros, 954 quilos de tomate cereja, 78 quilos de pimentinha e 1.748 quilos de coentro.

A produção, explica o titular da Coordenadoria de Idosos da Prefeitura e idealizador das hortas, Coronel Sérgio Gomes, é distribuída tanto entre os idosos moradores dos bairros que abrigam as hortas como também no Henrique Jorge, Genibaú, Autran Nunes e Granja Lisboa. Para receber o conjunto de hortaliças é preciso ter mais de 50 anos e ser cadastrado pela Prefeitura.
Praça
Em outra região da Cidade, a ideia de uma horta urbana compartilhada em uma praça se concretizou em janeiro de 2018. Idealizada e mantida pela C. Rolim Engenharia na Praça do Bem Melodia, no bairro Cocó, a pequena horta conta, dentre outros, com cebolinha, manjericão e coentro. Para usufruir do espaço, colhendo a produção, basta que os interessados sigam algumas regras, como: não coletar de forma excessiva as hortaliças, respeitar o tempo adequado da colheita de cada espécie e ao repor a plantação, cultivar apenas sementes orgânicas.
Todas as sementes são oriundas de agricultores e a iniciativa tem parceria com a empresa Muda Meu Mundo. Na avaliação da diretora Comercial e de Marketing da C. Rolim Engenharia, Ticiana Rolim, a presença da população na praça é mais expressiva aos sábados, quando no local é realizada uma feira de produtos agroecológicos.
A intenção da feira é ser uma forma de incentivo à novas práticas em relação ao cultivo e compartilhamento de alimentos saudáveis. "O último sábado de cada mês tem a feira em que há venda de produtos orgânicos. Nós também fazemos a colheita da horta. Na feira tem sempre muita gente. Sabemos que a horta não vai 'suprir a necessidade total de alimentação'. Mas é um estímulo", ressalta Ticiana.
No Bom Jardim, seguindo também princípios da agroecologia, a Horta Comunitária tem também finalidade medicinal. Estruturada em meados de 2004, a área verde produtiva é um dos espaços do Movimento de Saúde Mental Comunitária (MSMC) do Bom Jardim.
Conforme o coordenador de comunicação do MSMC, Elizeu Sousa, historicamente a horta tem uma função sócio-terapêutica no bairro. Surgiu em 2004 e, desde então, produz, dentre outros, cidreira e capim santo. A iniciativa conta com a parceria da Universidade Federal do Ceará, sendo caracterizada com um dos pontos de farmácia viva.
Recentemente, a horta também passou a cultivar espécies frutíferas. O local é mantido com recursos do próprio MSMC e recebe visitas dos participantes das atividades do Movimento. Dentre eles, crianças atendidas nos projetos e os moradores da residência terapêutica no bairro.
Função terapêutica
Para a terapeuta holística do Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS), do Bom Jardim, Zilar Amarro Ferreira, o cultivo da horta comunitária foi uma válvula de escape em um momento atribulado da vida. Diagnostica com depressão no início dos anos 2000, ela fez da criação da área verde uma distração para continuar no tratamento e reagir à doença.
Plantando cidreira e usufruindo dos benefícios gerados pela erva medicinal, Zilar se ajudou no tratamento. Passou da condição de paciente a de profissional do CAPS. Hoje, recuperada, trabalha na unidade e faz do cultivo da horta um auxílio em processos de recuperação psicossocial.

Fique por Dentro

Ampliação de hortas é avaliada
A replicação das hortas sociais em outros bairros de Fortaleza está sendo avaliado pela Prefeitura, segundo o titular da Coordenadoria de Idosos da Prefeitura, Sérgio Gomes. A ideia, explica, é criar outras 10 áreas do tipo. Os bairros ainda estão sendo definidos, mas ele adianta que o Conjunto Palmeiras e Pirambu estão na lista. A projeção é que as implantações comecem em janeiro de 2019.
Outra proposta é a de criação de fazendas urbanas - espaço para plantações e criação de animais. Mas não há prazo ainda definido para efetivação dessa outras iniciativa.

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