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quarta-feira, 20 de junho de 2018

SÍMBOLO DE UMA ERA CELEBRA 70 ANOS.

Conhecido por muitos nomes e dono de uma história repleta de altos e baixos, a mídia Long Player (LP) celebra 70 anos e se firma como testemunha (e ator) das principais modificações sentidas pela indústria fonográfica mundial

 por Antonio Laudenir - Repórter/via/DN/ Caderno3
Vinil
Até chegar aos ouvidos do consumidor final, a música, enquanto registro fonográfico, atravessa inúmeras etapas e simboliza a soma de diferentes influências físicas, sociais e até mesmo comportamentais. Para atingir esse efeito, existe a necessidade de um suporte capaz de carregar essa música até o ouvinte. Aliados aos serviços de streaming como Spotify e Deezer, para citar os mais populares, objetos como a fita K7, LP, Laserdisc (LD), MD, MP3, CD, DVD e Blu-ray obedeceram à missão de propagar as ideias de artistas e grupos musicais ao longo dos anos.
Algumas das siglas (e tecnologias) apontadas anteriormente ficaram pelo caminho e as chances de saírem do esquecimento são praticamente nulas, casos do LaserDisc e MD. Enquanto o MP3, CD e DVD testemunham um progressivo declínio, fãs de carteirinha e até mesmo novas gerações alimentam a sobrevida do K7 e colocam o Long Player no centro das atenções da indústria novamente.
Na obra "MP3: Música, Comunicação e Cultura" (2005), dos pesquisadores Rose Marie Santini De Oliveira e Clovis Ricardo Montenegro De Lima, o consumo da música através destas mídias é esmiuçado e revisado. Fruto de pesquisa iniciada em 2002, o livro foi lançado no momento onde a internet ampliava o acesso a áudios digitais. Interessava aos autores, entretanto, perceber o quanto as mudanças na música e na cultura musical eram bem mais complexas do que apenas uma "crise da indústria fonográfica".
Para os pesquisadores, interessa investigar como se estipularam as relações entre cultura e a história da música. Em certo sentido, apliam este conceito através da afirmação onde "os meios de comunicação mudam, incorporando novas tecnologias, e isso resulta numa composição sempre diferente e cultura, tanto no sentido de valores quanto no sentido de criação artística".
Após anos de constante pesquisa, em 21 de junho de 1948 surge no mercado um revolucionário formato de disco. Denominado "LongPlay" e abreviado posteriormente para LP, este material funcionava em rotação de 33 1/3 rpm, com diâmetro de doze polegadas e eram prensados em um plástico denominado Cloreto Polivinílico vulgarmente conhecido como "vinil". Daí, o famoso apelido.

Olhar
No artigo "Do Vinil ao Mp3: análise evolutiva das embalagens de discos no Brasil" Ricardo Marques Sastre situa a relevância da arte visual dos LPs e cita alguns números levantado pelo autor Egeu Laus, no ensaio "Capas de discos: os primeiros anos". Após a invenção do "bolachão", das cinco companhias que produziam vinil em 1950, passaram a existir mais de vinte até meados da década de 1980. Essa pulsante indústria gerou empregos para mais de cem mil pessoas e tornou o vinil o segundo tipo de plástico mais vendido no mundo.
Retornando à linha de raciocínio proposta por Rosie Marie e Clovis Ricardo, existe um profundo vínculo entre a música e o público. Esse passo reflete a multi relação do mercado com os elementos próprios de cada sociedade. P ara tanto, evocam Michel Foucault (1926-1984) e sua observação sobre essa multiplicidade de laços. "A maneiro com que a música refletiu sobre sua linguagem, suas estruturas, seu material decorre de uma iterrogação que, acredito, atravessou todo o século XX: interrogação sobre a 'forma'. A música foi muito mais sensível às transfomrações tecnológicas, muito mais estreitamente ligadas a ela do que a maioria da artes (exceto, sem dúvida, o cinema", explica o filósofo francês.
Podendo executar até 25 minutos de música em cada lado do disco, graças a sulcos menores no vinil, o LP eclipsou a existência dos discos de 78 rotações, conhecidos pelos ruídos e pelo breve espaço para composições superiores a quatro minutos de duração. Essa modificação nos processos de qualidade, armazenamento e fabricação são creditados ao engenheiro húngaro Peter Carl Goldmark (1906-1977).
Após servir na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Goldmark investiu três anos em pesquisas, até entregar à Columbia a novidade que alterou as edificações da indústria fonográfica. Um maior tempo de execução interferiu gradativamente nos aspecto artísticos dos lançamentos. Os discos evoluíram de simples suportes para músicas isoladas à objetos completos e dotados de conceito e originalidade.
O reinado dos vinis durou basicamente até os anos 1990, quando a mídia acabou pro provar do mesmo remédio e tonou-se obsoleta para outra invenção, no caso o compact disc (CD). De peças obrigatórias na coleção de qualquer amante da música, os LPs foram rapidamente deixados de lado e muitos tiveram como destino o lixo. O número de vendas caiu, fábricas deixaram de produzir e a cultura analógica sofria um dos baques mais conhecidos nessa trajetória.
Destinos
Com a passsagem da cultura material para virtual, próprio da relação entre as novas tecnologias, a circulação e recepeção dessa arte permitiram que a música, observam Rosie Marie e Clovis Ricardo, coloque em "xeque figuras e estruturas como o papel do artista e sua genialidade, o espaço privilegiado das prateleiras varejistas do mercado formal e mídia de massa como instância que homologa a música dita qualificada".
Nesse intervalo, os LPs praticamente despareceram para a dita grande mídia. Entretanto, no setor artístico underground, prosseguiu como objeto de culto e foi responsável por divulgar artistas que não participaram da febre relativa à transposição para o CD. Bandas e realizadores solo seguem produzindo e eternizando sua arte em vinil. Antes tendência nostálgica, o bolachão ganhou sobrevida e resta saber até quando essa nova onda vai durar. Importante, antes de mais nada, é propagar a arte e o LP, por enquanto, segue cada vez mais firme nesse processo.

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