Rio - Duas embarcações com pelo menos 21 pescadores a bordo naufragaram na Baía de Sepetiba, altura de Itaguaí, na madrugada desta sexta-feira. Seis pessoas foram resgatadas já sem vida. Outras seis pessoas estão desaparecidas e nove foram resgatadas com vida e encaminhadas inicialmente para o Hospital Municipal São Francisco Xavier, também em Itaguaí. Mais cedo, a 50ª DP (Itaguaí) informou que mais uma pessoa teria morrido, mas os Bombeiros ainda não confirmaram.
Os sobreviventes, Fabrício Remann e Marlon Santos, estiveram no local para ajudar no reconhecimento dos corpos. De acordo com a irmã de Fabrício, ele está muito abalado e teve diversos arranhões pelo corpo, além de ter chegado ao hospital com hipotermia.
"Ele pequenininho ficava apreciando a pesca. Eu falava pra ele 'a gente quer pra você o melhor'. Seu pai caiu nessa profissão porque não teve instrução nenhuma. Mas ele pedia pra ir e o pessoal que eu fazia turismo também pedia para levá-lo. O mar foi de surpresa. Em 2006, ocorreu um acidente igual do dele no mar dois barcos afundaram. Só teve duas vítimas, porque o pessoal tava deitado nas beliches. Teve uma espécie de ciclone/tornado aqui", disse ela.
As informações do Corpo de Bombeiros, da Marinha e da Polícia Civil divergem. Enquanto bombeiros e policiais dizem que havia 21 pessoas a bordo dos barcos pesqueiros Lucas Mar e Guto I, a Marinha falou em 22 pessoas nas embarcações, mas corrigiu os dados logo depois.
O Corpo de Bombeiros disse, inicialmente, que 10 pessoas foram resgatadas com vida, à deriva na Baía de Sepetiba. Três foram encaminhadas para o hospital São Francisco Xavier. Outros foram encaminhados ao Hospital Municipal Pedro II e à UPA de Santa Cruz. O porta-voz do Corpo de Bombeiros, coronel Glauco Lorite, disse em entrevista no local que provavelmente faltaram coletes salva-vidas aos pescadores.
Segundo Lorite, antes de naufragar eles entraram em contato, por volta de 1h. Uma embarcação foi encontrada.
A Marinha e os Bombeiros do Quartel de Sepetiba atuaram desde 0h20, quando foram acionados para o trabalho de procura e resgate na Baía. Apoiram os trabalhos o Quartel de Angra dos Reis e o Grupamento de Busca e Salvamento (GBS) da Barra da Tijuca. O naufrágio aconteceu na região da Laminha.
Os sobreviventes foram levados para o Hospital Municipal Pedro II e para a UPA, unidades localizadas em Santa Cruz, na Zona Oeste.
Quatro embarcações da Delegacia da Capitania dos Portos em Itacuruçá e duas dos bombeiros atuaram na região, assim como dois helicópteros — Marinha e Bombeiros — auxiliaram nas buscas. No porto, muitas pessoas estiveram em busca de notícias, são amigos, parentes, pais e filhos dos desaparecidos. As buscas foram encerradas às 18h e seguirão neste sábado.
Parentes incrédulos
Maria Bethânia Freitas Gomes é mulher do pescador João Gomes da Silva, de 50 anos, um dos desaparecidos. Ela conta que o marido saiu para a pescaria durante a madrugada, como de costume, mas quando ela levantou na manhã desta sexta-feira estranhou que ele ainda não havia chegado. "Comecei a ficar preocupada, até que me avisaram em casa sobre o que tinha acontecido", disse. "Ele amava pescar", lembrou, emocionada.
"Nunca pensei que passaria por isso na minha vida", disse Maria Bethânia. Ela diz que o coração aperta a cada vez que o helicóptero dos Bombeiros aterrissa no Porto de Itaguaí. "Eu fico na expectativa, eu sei que ele ainda vai chegar aqui com vida. Não perdi a esperança", desabafava, no início da tarde desta sexta-feira.
O guarda municipal Edson Alves, 48 anos, amigo de Lucas Barbosa, dono de uma das embarcações que também está desaparecido, acredita que o mau tempo provocou o naufrágio. "O mar, como dizem, ontem estava um tapete, paradinho. Mas do nada veio esse vento forte e afundou os barcos em 15 ou 20 segundos", disse.
O pai de Lucas, Aldo Barbosa, disse que está desde às 19h30 desta quinta-feira no local. "Minha esposa mandou mensagem pra ele e o Lucas não respondeu, eu vim pra cá e estou aqui desde então", contou.
Ele diz que trabalhava como pescador há 40 anos e que Lucas o acompanhava desde pequeno. Aldo conta que estimulava o filho único a estudar, dizendo que a pesca não dava futuro. "O mar é assim, muda rápido. Minha esposa está debilitada, eu estou aqui sem dormir, em busca de alguma notícia", desabafou. Lucas tem uma filha de seis meses.
Outra amiga de Lucas, Vanise Valéria espera angustiada no porto por novas informações. "Estamos aqui aflitos, a gente não sabe quem está dentro da ambulância, quem está no hospital. A gente espera encontrar os demais com vida", disse, emocionada.
As causas do naufrágio ainda são desconhecidas. Um inquérito instaurado pela Marinha do Brasil vai investigar o caso. Entretanto, pescadores que sobreviveram comentam que o forte vneto provocou o afundamento das embarcações.
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