A obra apresenta um conjunto de 48 histórias. O destaque é para a irmã da escritora, Maristela, que a inspirou bastante
FONTE:DN/REGIONAL
por Honório Barbosa - Colaborador
Acopiara Depois de escrever 13 cordéis sobre temáticas variadas, a escritora Djanira Feitosa resolveu transpor para a prosa muitas de suas poesias e publicou o livro 'Minhas Histórias de Trancoso... Era uma vez'. A ideia foi resgatar as narrativas da literatura cordelista publicadas individualmente nos últimos seis anos e deixar uma obra para que netos e outros leitores pudessem conhecer em um só volume.
"Eu tinha esse desejo há mais de 50 anos, muitas histórias guardadas, contatadas por minha irmã, Maristela, na nossa infância", justificou Djanira Feitosa. No sítio Cacimba dos Noés, no distrito de Trussu, zona rural de Acopiara, a escritora viveu com nove irmãos e desde cedo revelou aptidão para memorizar versos, quadras, fazer dramas domésticos e as primeiras poesias.
Em um caderno, Djanira Feitosa escrevia suas primeiras ideias, copiava fielmente histórias e versos ouvidos de terceiros em estilo de repentistas e trovadores sertanejos. "Quanto mais fazia, mais surgiam novos versos e inspiração", revelou.
Aos 80 anos, a fonte de motivação literária parece inesgotável. "Quero continuar fazendo cordéis, na verdade, já tenho três prontos. Vou escrever até quando Deus permitir".
Djanira Feitosa achou interessante a experiência de transformar em contos, as histórias narradas poeticamente. "Tive o apoio e o entusiasmo dos meus filhos, professores, Nabucodonosor e Nabupolasar, que fizeram revisão dos textos", revelou.
A obra foi dedicada a eles dois e às duas filhas: Elisa Paraguaçu e Cleópatra, além de cinco netos, cujos nomes seguem a tradição familiar de batizar os rebentos com nomes de inspiração bíblica e de personagens mitológicos.
A obra apresenta um conjunto de 48 histórias. O destaque é para a irmã da escritora, Maristela, que a inspirou bastante. A diferença de idade entre as duas era de seis anos. Mais velha, Maristela fazia muitas danações no sítio, no armazém da família e para obter a cumplicidade da irmã sempre prometia contar uma 'história de trancoso'.
Djanira tornou-se cúmplice e reafirmava as versões nem sempre verdadeiras da irmã perante os pais. "Ela me comprava o silêncio, prometendo contar uma história". A primeira narrada no livro recebe o título 'Presepadas de Maristela', mas a obra traz pelo menos mais quatro contos atribuídos à danação da irmã.
Outras foram ouvidas no colo do pai. A obra reúne uma coletânea de contos que se relacionam com narrativas comuns no sertão nordestino, com suas variantes de tempo e de lugar, recolhidas da tradição oral e dos registros escritos.
É marcante a presença da irmã mais velha, Maristela, na vida e na inspiração literária de Djanira Feitosa. "Um dias nós entramos no armazém para Maristela tirar um pedaço de fumo para fazer um cigarro. Queria fumar escondido. Ela subiu na prateleira e eu pequena deixei a vela queimar um pano, quase acontecia um incêndio, mas ela apagou o fogo e escondeu o tecido. Ficou o cheiro de queimado. Papai percebeu, mas eu havia jurado de joelhos para ela que não contaria a verdade, e disse que ninguém entrou na loja".
Uma das histórias tem o título de 'Verdelim', cuja narrativa fala de um pássaro que toda noite visita uma moça e, ao chegar à casa dela, se transforma em um belo rapaz, que é um príncipe. A tradição das narrativas orais, hoje denominadas de contação de histórias, contribuiu sobremaneira para se manter viva as histórias ditas de trancoso.
Em suas narrativas, Djanira Feitosa mantém os elementos do encantamento, da magia, das fábulas, dos heróis, da alegria das crianças sertanejas. As histórias contidas na obra podem ser lidas separadamente, sem seguir ordem. O prefácio do livro é dos filhos, professores, Nabupolasar e Nabucodonosor Alves Feitosa. O último conto tem um título curioso: 'A mulher que namorava três padres'.
O primeiro cordel produzido por Djanira Feitosa foi uma encomenda do ex-prefeito de Acopiara, Antônio Gaspar do Vale, e narra o crescimento da cidade durante a gestão dele. A autora também gravou um CD com cordéis cantados. Dentre os títulos poéticos destacam-se: "A vida do turco ou a traição de Edileusa pelo amor de Aragão"; "A princesa do sítio de Laranjeira"; "O ermitão de muquém"; "100 anos de seca - 1915 - 2015'; "A catitinha que matou o Izato"; "A história da mulher bonita e o sofrimento de Ritinha"; "A história do reino da água azul"; "A vida de Luiz Gonzaga", uma homenagem ao rei do baião pelo transcurso do centenário de vida.
Comerciante
Maria Djanira Alves Feitosa nasceu na localidade de Flamengo, zona rural de Saboeiro, em 1937. Casou-se com Francisco Alves Batista, comerciante, e morou com os pais em Fortaleza e depois com o marido em São Paulo. É técnica em Contabilidade e tem cursos de Taquigrafia e Relações Humanas. Foi professora, diretora escolar e promotora de eventos culturais.
Ao lado dos filhos, a escritora está trabalhando na produção de um livro que trata das expressões usadas em letras de músicas cantadas por Luiz Gonzaga. "O objetivo é esclarecer certas palavras, frases, segundo o costume nordestino", adiantou. "Enquanto não caducar, com apoio de meus filhos e se Deus quiser vou continuar escrevendo as histórias que tanto ouvi e que tenho inspiração".
Nenhum comentário:
Postar um comentário