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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

O GADO SOFRE COM A ESCASSEZ HÍDRICA NO SERTÃO CEARENSE.

A esperança de muitos criadores é a chuva de pré-estação, que poderia favorecer a formação da pastagem

Fonte:DN/Regional

Quem percorre rodovias no sertão cearense observa os animais nas roças secas, quase sem mato, lambendo terra e pedras à procura de gramíneas ( Foto: Honório Barbosa )
 por Honório Barbosa - Colaborador
Tauá / Arneiroz / Quixeramobim / Icó. O rebanho sofre com a falta de pastagem e de água no sertão do Ceará. Nos Inhamuns, Sertões de Crateús e Sertão Central, os criadores enfrentam, desde 2012, dificuldades para manter os animais. O gado está magro. Houve adaptações, busca de alternativas, como formação de silos e redução do número de bovinos, nos últimos seis anos, mas o quadro permanece grave.
A esperança de muitos criadores é a chuva de pré-estação (dezembro e janeiro), que poderia favorecer a formação da pastagem nativa (capim) para alimentar o rebanho. Quem percorre rodovias no sertão cearense observa os animais nas roças secas, quase sem mato, lambendo terra e pedras à procura de algumas gramíneas.
Sem reservas

Nos Inhamuns, nos municípios de Tauá e Arneiroz, o rebanho sofre com a falta de alimentação. "A situação da pecuária é grave aqui na região", afirma o criador Francisco Lima, que mantém uma criação de 20 cabeças nas proximidades de Cachoeira de Fora. "Na roça, o gado tenta comer o resto de pasto, mas a terra está seca, sem nada".
Os criadores alegam falta de condições financeiras para comprar ração e capim para alimentar o rebanho. "O gado é criado solto e sofre nessa época do ano", observa o técnico agrícola Marcos Pereira. "Entre Inhamuns e Catarina, as chuvas foram poucas neste ano e as dificuldades já vêm desde 2012".
Alguns produtores levam os animais para pastar nas margens da rodovia. "É o jeito usar esse capim para não deixar os bichos morrerem de fome", justifica o agricultor Raimundo Rodrigues. O criador colocou duas pessoas para sinalizar aos motoristas com flanelas com o objetivo de evitar acidentes.
De acordo com relato dos vaqueiros e dos próprios criadores, nos últimos seis anos, houve morte e venda de animais mediante as dificuldades para alimentar o rebanho. "Muitos venderam a maior parte do gado porque não tinham como sustentar", explica o agricultor Sebastião Alves.
A esperança dos criadores é que a chuva volte logo, pelo menos para fazer pastagem. "Se chover logo em janeiro, o pasto nasce e melhora a nossa situação", afirma o produtor Manoel da Silva. "Estou preocupado, com medo de mais um ano de seca, mas não perdi a esperança", revela. Ele lembrou que os profetas da chuva estão falando que 2018 será um ano de "bom inverno".
A maioria dos pequenos criadores insiste em criar os bovinos sem dispor de uma reservar alimentar (silagem) ou cultivo irrigado de capim. No período de estiagem (agosto a dezembro) surgem as dificuldades. A pastagem nativa chega ao fim, os animais perdem peso. Alguns, de tão fracos, caem nas roças, adoecem e morrem.
Tecnologias
Somente uma parte dos criadores investe em tecnologias alternativas de alimentação do rebanho, priorizando a formação de silos (armazenamento de capim, sorgo forrageiro) para ser usado no período de escassez alimentar.
"Já houve avanços e até os anos de seca serviram de ensinamento", observou o gerente regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), em Iguatu, Joaquim Virgolino Neto. "Outros fazem silos pequenos e a reserva alimentar fica escassa nessa época do ano, depois de vários meses de consumo", completa Joaquim Virgolino.
O presidente do Sindicato Rural de Quixeramobim, Cirilo Vidal, disse que é grave a situação da pecuária no sertão cearense, em decorrência do atual ciclo de seca que se abateu sobre o sertão nordestino desde 2012. "A reserva de forragem armazenada em silos está chegando ao fim em meados de janeiro próximo", explica. "A água também está no fim", ressalta.
No limite
Cirilo Vidal mostra que, se não chover logo em janeiro vindouro, haverá muitas dificuldades. "Não é só para alimentar o rebanho, mas para dar o que beber", frisa. "Estamos no limite, sem reserva alimentar e sem água, poços e açudes secos". Ou seja, mais uma vez espera-se pela chuva para salvar a situação e evitar morte dos animais. "Aqui por Quixeramobim ainda não choveu", ponta.
Para os criadores de gado leiteiro, nesta época do ano também ocorre a queda de pelo menos 50% da produção dos laticínios. Em Icó, o criador José Pereira diz que o gado está magro porque não há como alimentar os animais.
"No começo do ano, eu estava com 40 cabeças, mas já vendi 25 e só não vendo mais porque não há comprador", frisa. "Daqui para a frente a situação vai piorar cada vez mais até que as chuvas cheguem", sentencia o criador.
No município de Icó, os pequenos e médios criadores enfrentam dificuldades para alimentar o rebanho. Açudes secaram, poços ofertam água muito reduzida. Há até dificuldades no Perímetro Irrigado para dar água aos animais porque a prioridade é o abastecimento humano.
A situação mais crítica é na região de Icozinho. "O gado está magro, perde peso a cada semana e as despesas têm aumentado para manter o rebanho", afirma o agricultor Pedro Custódio.

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