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domingo, 23 de abril de 2017

VIGILANTE ANALFABETO ESCREVE LIVROS E COMPÕE MÚSICAS EM NOVA SERRANA EM MG.

Valdivino Soares Barbosa mal assina o próprio nome e já tem dois livros publicados e 800 composições. Autor conta com ajuda da filha para escrever.

Por Anna Lúcia Silva, G1 Centro-Oeste de Minas
Valdivino conta com ajuda da filha para escrever livros (Foto: Tô Indo/Reprodução)
O morador de Nova Serrana e vigilante Valdivino de Carvalho, de 55 anos, é analfabeto. Não aprendeu a ler e mal escreve o próprio nome. Frequentou a escola quando tinha sete anos e logo abandonou. Contudo, há dois anos descobriu que tinha o dom da palavra e resolveu registrá-las em livros.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8% da população acima de 15 anos é analfabeta, ou seja, não sabe ler e escrever um bilhete simples no idioma que conhece. São 12,9 milhões de pessoas assim como o Valdivino Carvalho. Mas, para ele, essa condição não foi empecilho para registrar suas obras.
Valdivino tem dois livros já publicados em Nova Serrana. Além disso, ele também é compositor e cinco músicas já foram gravadas por um cantor do Vale do Jequitinhonha.
Valdivino relatou ao G1 que a inspiração para a escrita veio em um momento de muita sensibilidade, na ocasião da morte do filho mais velho. O primeiro livro ele deu o nome de: 'A história real dos três irmãos Barbosa' - que conta a história de vida da família, descendente de escravos.
Valdivino é morador de Nova Serrana e tem 55 anos (Foto: Tô Indo/Reprodução)
A segunda obra chamada de “Os sinais” é justamente o registro de mensagens de paz e gratidão ao universo. O autor lembra que, mesmo sem entender as letras, já pensava em trechos de escritas, mas eles se perdiam e então resolveu pedir à filha Sarah para que ela fosse sua “caneta”, como ele mesmo destaca.
“Engraçado tudo isso né? Como não sei ler e escrever eu gravo tudo no celular e minha caneta é a Sarah. Ela faz a redação, ela pega do celular tudo que gravo, escuta e escreve pra mim como eu peço”, disse.
Sarah conta que não serve apenas de auxílio ao pai que não tem condições de escrever, ela é também a maior incentivadora. “No começo não levei muito a sério, confesso. Mas, ele começou a falar muito sobre isso e então comecei a copiar no caderno o que ele queria, porque na época não tinha ainda o computador. Eu saía de casa e ia até um vizinho pra poder digitar no computador”, contou.
Autor já escreveu dois livros e compôs mais de 800 músicas (Foto: Tô Indo/Reprodução)
O computador foi comprado depois da publicação do primeiro livro e tudo ficou mais fácil. Valdivino se senta ao lado da filha que com atenção escuta o pai e redige as histórias, versos e músicas.
Além de Sarah, quem ajuda o autor na revisão dos textos é o advogado e também escritor Marcelo Porchat. “O que me chamou atenção no Valdivino foi a simplicidade dele. Ele é analfabeto, nascido no Vale do Jequitinhonha e até os 50 anos era um porteiro comum. Hoje ele é uma unanimidade em Nova Serrana, onde todo mundo gosta dele, se aconselha com ele”, disse.
A falta de alfabetização não traz consigo arrependimentos ou atrasos para o que Valdivino deseja, pois para ele a sabedoria não está em pessoas letradas, como destaca.
“A sabedoria não está em grandes letrados, a sabedoria está dentro de cada um de nós”, finalizou.

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