Daniela Fernandes
Há mais estudantes brasileiros que se dizem felizes do que na média dos países desenvolvidos, revela um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado nesta quarta-feira.
A pesquisa diz ainda que os adolescentes no Brasil também estão entre os que mais usam a internet fora da escola.
Os dados estão no relatório "O Bem-Estar dos Estudantes", o terceiro volume do último estudo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2015, que entrevistou 540 mil jovens de 15 anos de redes públicas e privadas de ensino em 72 países.
A pesquisa pediu que os alunos avaliassem, em uma escala de 0 ("a pior vida possível") a 10 ("a melhor vida possível"), o grau de satisfação com suas vidas.
A média do Brasil foi de 7,59, pouco acima dos 7,31 obtidos na média dos países da OCDE, que reúne 35 economias, a grande maioria desenvolvidas.
Quando analisado o grupo de 35 países que são parceiros da OCDE, mas não integram organização, o Brasil se situa no meio do ranking, com a décima melhor pontuação - apenas 20 forneceram dados.
Entre os emergentes com melhores resultados estão República Dominicana (8,50), Costa Rica (8,21), Croácia (7,90) ou Colômbia (7,88).
'Muito satisfeitos'
Pouco menos da metade (44,6%) dos jovens brasileiros de 15 anos se disseram "muito satisfeitos" com suas vidas (deram notas 9 e 10).
O resultado é bem superior à média dos alunos da OCDE, que é de pouco mais de um terço (34,1%). Entre o grupo de 20 emergentes que forneceram dados, o Brasil ocupa o 8º lugar.
A proporção dos que deram nota de 9 a 10 é bem mais elevada em países como República Dominicana (67,8%, o melhor resultado de todo o estudo), Costa Rica (58,4%), Colômbia (50,9%) e Montenegro (50,1%).
Por outro lado, em economias asiáticas, como a da Coreia do Sul e Hong Kong, o total de "muito satisfeitos com a vida" não chega a 20%.
Ou seja, apesar de liderarem em relação aos conhecimentos, os estudantes da região são, em geral, menos felizes do que os de outros países do mundo - os alunos de países asiáticos estão entre os primeiros colocados nas provas de ciências, matemática e compreensão da escrita do Pisa, a mais importante avaliação educacional do mundo.
No Japão, que ocupa o segundo lugar no Pisa, apenas 23,8% dos alunos se dizem "muitos satisfeitos" com a vida. Em Taipei, quarto melhor colocado na avaliação educacional, somente 18,5% dos estudantes se consideram muito felizes.
Hong Kong é outro exemplo: ocupa o 9º melhor no ranking de desempenho, mas apenas 13,9% de seus estudantes declaram estar "muito satisfeitos".
O último Pisa, divulgado no final do ano passado, deu destaque para a área de ciências.
"Os dados do Pisa 2015 mostram que há uma modesta relação entre a média da performance em ciências e a média de satisfação com a vida", diz a OCDE.
"Estudantes de países com baixos resultados tendem a relatar níveis mais altos de satisfação com a vida do que alunos de países com alta performance", destaca o relatório "Bem-Estar dos Estudantes".
Há algumas exceções, acrescenta a organização. É o caso da Finlândia, Holanda ou Suíça, onde o desempenho nas provas de ciências se situa acima da média e os alunos declaram estar satisfeitos com a vida.
Já na Turquia, que está entre os 20 últimos colocados nos testes de ciências do Pisa, os estudantes tendem a relatar pouca satisfação com suas vidas.
Média de infelicidade
O índice dos estudantes que se dizem "infelizes" (com notas de 0 a 4) no Brasil é de 11,8%, exatamente a média dos países da OCDE.
"O bem-estar dos alunos se refere ao estado psicológico, cognitivo, social e físico e as capacidades que o estudante precisa para viver uma vida feliz e com realizações", explica a organização.
"O bem-estar é acima de tudo definido pela qualidade de vida", ressalta o relatório, acrescentando que apenas no Brasil e na Colômbia os estudantes desfavorecidos relatam maior satisfação com a vida do que os mais favorecidos. O documento não fornece mais detalhes sobre essa questão.
Outro fator analisado no estudo é o interesse dos pais em relação à vida escolar dos filhos.
"Estudantes cujos pais se interessam por suas atividades escolares têm melhor performance no Pisa do que alunos que relatam falta de interesse de seus pais", diz o documento.
A OCDE também aponta que o envolvimento dos pais em outras atividades (como conversar sobre a escola ou fazer refeições juntos à mesa) tem impacto positivo não apenas no resultado escolar do aluno, mas também no fato deles se sentirem mais satisfeitos em relação à vida.
"Passar tempo apenas conversando é a atividade entre pais e alunos mais fortemente associada à satisfação", ressalta a organização.
"Na maioria dos países, estudantes tendem a relatar que são muito satisfeitos com sua vida quando seus pais realizam regularmente pelo menos uma das atividades em casa (conversar ou fazer refeições juntos)".
No Brasil, 85,2% dos alunos dizem conversar com os pais após a escola, segundo o estudo. A média nos países da OCDE é 86,1%. Na Rússia, Tailândia e Tunísia, o número é pouco acima de 90%.
Uso da internet
Outro indicador medido, a ansiedade, revela que a grande maioria dos alunos no Brasil (quase 81%) se sente "muito ansiosa" mesmo quando bem preparada para as provas. É o segundo índice mais elevado entre os países analisados.
O relatório também revela que os estudantes de 15 anos no Brasil passam mais de três horas (190 minutos) por dia na internet nos dias de semana, no período fora da escola.
É o segundo maior tempo gasto entre os países do estudo, ficando abaixo apenas do Chile (195 minutos). Mas cerca de 20 países não forneceram esses dados. A média na OCDE é de quase duas horas e meia.
Nos finais de semana, os estudantes no Brasil utilizam ainda mais a internet: 209 minutos. Mas estudantes de vários outros países, como Holanda, Suécia ou Reino Unido, passam mais tempo online do que os brasileiros.
A OCDE vê essa atividade como uma forma de estender o aprendizado. "As ferramentas da internet, incluindo redes online, mídias sociais e tecnologias interativas, estão criando estilos de aprendizado, onde jovens se veem como agentes de seu próprio conhecimento e podem aprender mais sobre o mundo", afirma o estudo.
Bullying
O relatório também analisa a questão do bullying nas escolas. No Brasil, 17,5% dos estudantes afirmam sofrer algum tipo de bullying (tirar sarro, sumiço ou destruição de pertences, sofrer rumores e ameaças, por exemplo) algumas vezes por mês. Na OCDE, a média é de 18,7%.
Mas apenas 3,2% dos alunos brasileiros dizem sofrer violência física (socos ou empurrões), segundo o estudo. A média na OCDE nesses casos de bullying é de 4,3%. Em Hong-Kong, é quase o triplo, 9,5%.
O relatório "O Bem-Estar dos Alunos" afirma que alunos com desempenho baixo na escola estão mais sujeitos a se tornar vítimas de bullying.
"De acordo com os resultados do Pisa, a proporção de vítimas de bullying é maior em escolas com alto percentual de estudantes que repetiram de ano, onde há pouca disciplina na sala de aula e onde alunos relatam ser tratados de forma injusta pelo professor", diz o estudo.
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