Powered By Blogger

quinta-feira, 9 de março de 2017

PAI ADAPTA BICICLETA E PEDALA QUASE 40 KM POR DIA PARA LEVAR A FILHA NA ESCOLA.


Desempregado quer garantir à menina de 3 anos acesso aos estudos.
Secretaria diz que criança tem direito a ônibus, desde que acompanhada.

Ana Marin*Do G1 São Carlos e Araraquara










Para não deixar que a filha de 3 anos fique longe dos estudos, Juracir Ferreira Faustino de Souza adaptou uma bicicleta e pedala diariamente quase 40 quilômetros para levar e buscar a criança da zona rural até a escola, no Jardim Cruzeiro do Sul, em São Carlos (SP). Segundo a Secretária de Educação, a menina  tem direito ao transporte escolar, mas por ter menos de 6 anos, precisa estar acompanhada por um responsável.
Maria da Vitória dos Santos Rocha está matriculada no Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Otávio de Moura. Segundo o pai, um ônibus que leva as crianças da zona rural para a escola passa próximo a residência dele.
O trajeto começa ainda na madrugada para que a criança chegue a tempo na escola (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)Trajeto de bicicleta começa na madrugada
(Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
“Não sei o motivo já que o ônibus passa na porta, pega meu sobrinho, mas não pega ela. Eles alegam que não podem levá-la porque ela ainda não tem quatro anos, a diferença é de cinco meses apenas”, disse.
Souza, natural da Paraíba, está desempregado e mora com a família há três meses em São Carlos, em uma fazenda às margens da Rodovia Professor Luis Augusto de Oliveira (SP-215).
O trajeto de ida, que começa por volta das 5h20 e dura uma hora e meia, passa por estrada de terra, rodovia e trânsito urbano. Depois de deixar a filha na escola, o pai retorna para casa e faz novamente o trajeto no final da aula, para buscar a menina. “Quero dar a ela o que eu não tive, porque eu não tive essa oportunidade”, declarou Souza.

Determinado, ele afirma que fará o percurso todo dia até conseguir uma vaga no ônibus. “Não dá certo uma criança fora da escola, se não der certo [o ônibus] eu continuo trazendo ela todo santo dia. Tem que ter a escola pra criança”.
Para Souza, a alternativa oferecida pela prefeitura, que ele acompanhasse a filha no ônibus, é inviável. “Teria que fazer um sacrifício, que é o de ficar o dia todinho com fome na porta do colégio, aí quando ela saísse vir embora junto”.
Trecho da rodovia  (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)Rodovia faz parte do percurso que o pai enfrenta para levar filha a escola (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
Adaptações
Na bicicleta coberta com uma cortina de banheiro e adaptada com uma cadeirinha para a criança, pai e filha enfrentam frio, chuva e sol, além de correrem risco de sofrer um acidente, pois parte do trajeto é realizado às margens da rodovia.
Bicicleta adaptada para Juracir levar a filha até a escola (Foto: Ana Marin/G1)Bicicleta adaptada para Souza levar a filha até a
escola (Foto: Ana Marin/G1)
“Eu peguei umas madeirinhas da reciclagem e eu tinha essa cortina em casa, aproveitei para poder proteger minha filha. Sem ônibus, eu tenho que me virar do jeito que posso, estou seguindo em frente e vamos ver no que vai dar”.
O caso ganhou repercussão após ser divulgado em um grupo do Facebook pela mãe de um colega de sala da criança.
A publicação ultrapassou mais de duas mil visualizações e o esforço de Souza para que a filha não fique longe dos estudos comoveu os moradores da cidade.
Juracir acompanha entrada da Maria da Vitória na CEMEI (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)Souza acompanha a entrada da filha Maria da Vitória no Cemei (Foto: Reginaldo dos Santos/ EPTV)
Prefeitura
Em entrevista à EPTV, o secretário de Educação, Nino Mengatti, informou que por, não ter a idade mínima necessária, Maria da Vitória teria que ser acompanhada por um responsável até a escola. "Nós não podemos permitir que crianças com menos de 6 anos viagem desacompanhadas por questões que esses ônibus não têm cadeirinha. É um risco para a criança e a família", declarou.

Mengatti afirmou ainda que há outras crianças na cidade na mesma situação. "Em nenhum momento a Secretaria deixou de acompanhar o caso ou prestar assistência, o empenho nosso foi para resolver, mas isso não há como mudar, não posso abrir uma exceção. Há milhares de pessoas desempregadas e nem por isso deixam de acompanhar seus filhos".









*Sob a supervisão de Caliandra Segnini, do G1 São Carlos e Araraquara.

Nenhum comentário: