Coralie Febvre e Yannick Pasquet - Da AFP
Um caminhão lançado contra uma multidão em uma feira de Natal no centro de Berlim, nesta segunda-feira à noite (19), deixou doze mortos e 48 feridos - um evento que já começa a ser considerado como um "ataque" pelo governo. As informações são da AFP.
"Doze pessoas morreram na Praça Breitscheid e outras 48 foram levadas aos hospitais, algumas com ferimentos graves", revela a polícia no Twitter.
De acordo com o ministro alemão do Interior, Thomas de Maizière, "muitas razões" levam a pensar que foi um ataque.
"Ainda não quero - por enquanto - pronunciar a palavra 'atentado', mesmo que muitas razões levem a pensar nisso", disse ele à emissora pública ZDF.
No Twitter, o ministro alemão da Justiça, Heiko Mass, informou que a investigação será conduzida pelo Ministério Público. Na Alemanha, o órgão é responsável por assuntos ligados ao terrorismo.
"Uma pessoa, que é claramente o motorista, foi detida. Um passageiro morreu", disse a Polícia à AFP.
Segundo fontes do serviço de segurança citadas pela agência alemã DPA, o homem detido seria paquistanês ou afegão, e teria chegado à Alemanha como solicitante de asilo em fevereiro de 2016.
"Examinamos a pista de um atentado terrorista, mas ainda não sabemos as motivações desse ato", disse um outro porta-voz policial.
A Polícia também pediu à população que "fique em casa", como medida de precaução.
De acordo com diferentes veículos da imprensa alemã, o motorista do caminhão, cuja placa é da Polônia, conseguiu fugir.
O proprietário da empresa dona do caminhão confirmou o desaparecimento do polonês.
"Não temos contato com ele desde esta tarde. Não sei o que aconteceu com ele. É meu primo. Eu o conheço desde a infância. Eu respondo por ele", declarou Ariel Zurawski por telefone à AFP.
Questionado pelo canal de notícias 24 horas TVN24 sobre se o motorista se sentia ameaçado, ou em perigo, Zurawski respondeu "de modo algum".
Segundo Lukasz Wasik, um diretor da empresa, o contato com o motorista, de 37 anos, foi perdido por volta das 15h locais (12h, horário de Brasília).
"Não sabemos no que ele se transformou, se foi sequestrado, morto, não sabemos de nada. Estamos muito preocupados com ele", declarou, acrescentando que "a última vez que estivemos com ele no telefone foi esta manhã, por volta das oito, ou nove".
O motorista transportava 25 toneladas de produtos metalúrgicos, procedentes da Itália.
Em Berlim, "a empresa onde ele devia descarregar não pode recebê-lo e disseram a ele para voltar na terça de manhã. Dissemos a ele para esperar em Berlim, em alguma parte", acrescentou Wasik.
Por enquanto, a Polícia descarta novas ameaças para a população.
"Não há atualmente indícios de outras situações perigosas" no centro de Berlim oeste, tuitou a Polícia.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse estar "em luto" pelos mortos.
"Estamos em luto e esperamos que os muitos feridos recebam a ajuda necessária", disse o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, em sua conta no Twitter, em alusão às "terríveis notícias" vindas de Berlim.
Imagens do jornal local Berliner Morgenpost publicadas on-line mostram várias barracas da feira de Natal destruídas pelo caminhão.
As forças da ordem estabeleceram um perímetro de segurança e bloquearam o acesso.
Reações
Por suas circunstâncias, esse evento remete ao atentado de 14 de julho de 2016, em Nice, na França, quando um caminhão atropelou várias pessoas no Passeio dos Ingleses, no dia da festa nacional do país. Nesse sentido, a França manifestou prontamente sua solidariedade.
Em nota divulgada pelo Palácio Eliseu, o presidente francês, François Hollande, declarou que "os franceses compartilham o luto dos alemães frente a essa tragédia que atinge toda a Europa".
O chefe de Estado francês manifestou "sua solidariedade e sua compaixão à chanceler (alemã, Angela) Merkel, ao povo alemão e às famílias".
O ministro francês do Interior, Bruno Le Roux, anunciou que a segurança foi "imediatamente reforçada" nas feiras de Natal no país.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse estar "entristecido" com o episódio de hoje.
Os americanos também reagiram, condenando o suposto "ataque terrorista".
"Os Estados Unidos condenam nos termos mais firmes o que parece ser um atentado terrorista em um mercado de Natal de Berlim", afirmou o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, Ned Price, em um comunicado.
"A Alemanha é um dos nossos mais fortes aliados, e estamos junto com Berlim na luta contra todos aqueles que atentam contra nossa forma de vida e ameaçam nossas sociedades", acrescentou.
"Estivemos em contato com funcionários alemães, e estamos prontos para oferecer ajuda, enquanto investigam e se recuperam desse horrível incidente", afirmou Price.
Alta tensão
O mercado natalino atingido pelo caminhão, que partiu para cima de transeuntes e rolou sobre a calçada, fica no centro da capital, a dois passos da Gedächtniskirche - a Igreja da Lembrança, uma das principais atrações turísticas berlinenses - e de uma movimentada avenida de comércio, a Kurfürstendamm.
No local, um turista entrevistado pela AFP disse não saber se o motorista "estava bêbado", ou se ele lançou o caminhão de forma deliberada, "mas ele não procurou parar, ele simplesmente continuou".
"Acabei de ver esse gigantesco caminhão preto, que embestou na direção do mercado e atropelou tantas pessoas, então, todas as luzes se apagaram, e tudo ficou destruído", relatou a turista australiana Trisha O'Neill, em entrevista à emissora Australian Broadcasting Corporation.
"Havia sangue e corpos por todos os lados", incluindo crianças e idosos, completou ela.
Em julho passado, em Nice, um tunisiano jogou seu caminhão contra uma multidão no Passeio dos Ingleses. Esse atentado deixou 86 mortos e mais de 400 feridos e foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI). O agressor foi morto pela Polícia.
Até agora, a Alemanha havia sido poupada do ataques extremistas de ampla envergadura, mas vários atentados islâmicos foram cometidos, recentemente, por "lobos solitários".
Em julho, o EI assumiu a autoria de um atentado cometido por um sírio de 27 anos, que deixou 15 feridos, e de um ataque lançado por um demandante de asilo, provavelmente de origem afegã, de 17 anos, que deixou cinco feridos.
Em outubro, um sírio se suicidou na prisão após ser detido. Segundo os investigadores, ele se preparava para lançar um ataque contra um aeroporto de Berlim.
Edição: Fábio Massalli
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