As celebrações de Santo Antônio, São João e São Pedro representam um misto da cultura popular com a religião no Nordeste
Fonte:DN/Regional/ por Honório Barbosa - Colaborador
Cedro. "Olha pro céu, meu amor/Vê como ele está lindo (...)/Foi numa noite, igual a esta/Que tu me deste o coração/O céu estava, assim em festa/Pois era noite de São João/Havia balões no ar/Xote, baião no salão/E no terreiro/O teu olhar, que incendiou/Meu coração". A música do cancioneiro popular, Luiz Gonzaga, "Olha pro céu", retrata o clima de festas juninas de caráter popular e religioso.
Este mês é conhecido pelos festejos juninos. As celebrações dos santos populares - Santo Antônio, que transcorreu no último dia 13; São João, que será no próximo 24; e São Pedro no dia 29 vindouro - , representam um misto do profano da cultura popular, com o religioso, mediante as celebrações dos santos da Igreja Católica.
A dança típica do período, a quadrilha junina, enche de brilho e de alegria as noites sertanejas. O ritmo forró é o mais tocado. É um período em que a temperatura fica amena no sertão à noite e quando há colheita dos grãos, em particular do milho, com o qual são feitas muitas comidas típicas da época, e as festividades ficam mais animadas.
Paróquias
No Estado do Ceará, 15 paróquias festejaram Santo Antônio (13). Mais 12 estão festejando São João Batista (24): Cedro, Quixadá, São João do Jaguaribe, Acaraú, Aranaú, Pacujá, Uruburetama, Aruaru (Morada Nova), Horizonte, Acarape e Fortaleza, nos bairros Santo Amaro e São João do Tauape. No fim do mês (29), outras sete irão celebrar São Pedro.
Mesmo aqueles que não são chegados às festas populares, afirmam ser a época do ano que mais gostam.
Alguns são atraídos pela fé e participam intensamente dos novenários, devotados para o espiritual. Outros querem dançar, se divertir, estão de olho nas coisas temporais - as danças e as guloseimas.
É forte o apelo da culinária típica do período: a canjica, a pamonha, o bolo de milho, de batata e macaxeira, o pé de moleque, a espiga cozida e assada, a paçoca e tantas outras gostosuras juninas.
Nas cidades em que se comemora Santo Antonio, São João e São Pedro, o clima de festa é ainda mais intenso. O número de visitantes cresce, aqueles que moram em outras cidades (filhos ausentes) são atraídos. As igrejas ficam lotadas e nas pracinhas há muita festa, reencontros, animação e quermesse.
Calendário Cultural
"No Nordeste brasileiro, em especial, as festas juninas são mais animadas. Oriundas de Portugal, vieram pelas mãos dos colonizadores e aqui se adaptaram. São eventos tradicionais e integram o calendário cultural", observa a professora de História Aparecida Albuquerque.
"As festas de padroeiro são caminhos que nos aproximam de Jesus", lembra o monsenhor Afonso Queiroga, da Diocese de Iguatu. "Neste mês, há centenas de paróquias e capelas que festejam os principais santos em um clima de muita animação e de fé", exalta.
A cidade de Cedro é uma das sete que têm São João Batista como padroeiro. Outras paróquias também comemoram o santo, que é bastante popular. Novenas, missas, ofícios, caminhadas pela madrugada, leilão e quermesse são ritos constantes nas programações de novenários.
A festa religiosa em Cedro já perdura há 97 anos. Diariamente, os devotos acordam bem cedo e às 4 horas da manhã fazem caminhada para os bairros, conduzindo a imagem do santo padroeiro. À noite, às 18 horas, trazem a escultura de volta para o altar da Igreja Matriz, onde é celebrado o novenário. No dia seguinte, a programação se repete.
O festejo, quase centenário, atrai devotos de todo o Município. "É uma festa marcada pela fé e por forte devoção", frisou o padre Ademar Alves. No próximo dia 24, haverá missa solene de encerramento, às 9 horas e, às 17 horas, procissão com o andor e a imagem do São João Batista por ruas da cidade.
O monsenhor Queiroga observa que São João Batista é, dos três santos juninos, o mais festejado. "É o campeão", disse. "São festas de forte religiosidade popular no mês de junho e onde um dos santos é padroeiro a participação e animação são bem maiores".
O religioso frisou que todas as cidades, ao seu modo, celebram os santos de junho, mesmo que não sejam padroeiros. "Santo Antônio foi o grande pregador; São João, o anunciador, precursor; e São Pedro, o fundador da Igreja. Todos deram o seu testemunho de fé".
As festejas de junho têm uma mística particular e se confundem com as celebrações religiosas. Às vezes ocorrem separadas e em outras ocasiões se misturam como a condução do pau da bandeira de Santo Antônio, em Barbalha, no Cariri. Arrasta multidão na abertura do novenário. Os seguidores bebem, fazem simpatias, crendices, há danças folclóricas, mas têm fé, oração e devoção, dentro ou fora da igreja. "É a diversidade cultural e religiosa que a região do Cariri apresenta", observa o padre Ricardo Ferreira.
Fique por dentro
Conheça um pouco mais da vida de São João
São João Batista era filho do sacerdote Zacarias e de Isabel, que era prima de Maria, mãe de Jesus. João foi consagrado a Deus desde o ventre materno. Em sua missão de adulto, ele pregou a conversão e o arrependimento dos pecados manifestos por meio do batismo. João batizava o povo. Daí o nome João Batista.
Foi o precursor de Jesus, anunciou sua vinda e a salvação que o Messias traria para todos. É também o último dos profetas.
Santa Isabel era idosa e nunca tinha engravidado. Todos a tinham como estéril. Mas, então, o anjo Gabriel apareceu a Zacarias e anunciou que Isabel teria um filho e que este deveria se chamar João. Zacarias não acreditou e ficou mudo.
Adulto, João foi morar no deserto para rezar, fazer sacrifícios e pregar para que as pessoas se arrependessem. Batizava a todos que se arrependiam e multidões sempre iam ver suas pregações no Rio Jordão.
Quando o próprio Jesus foi ao encontro de João Batista para ser batizado, São João indagou: "Eu é que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?"
São João Batista é o primeiro mártir da Igreja. Foi morto por ordem do rei Herodes e sua cabeça entregue em uma bandeja. Sua festa é celebrada desde o começo da Igreja, no dia 24 de junho. Ele é venerado como profeta, santo, mártir, precursor do Messias. Sua representação é mostrada batizando Jesus e segurando um bastão em forma de cruz.
A festa religiosa dedicada à são João Batista relaciona-se com o período de colheita de grãos no sertão, costume trazido ao Brasil pela imigração portuguesa e que tem a região Nordeste como uma das mais movimentadas culturalmente.
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